quarta-feira, dezembro 19, 2007

Algumas reflexões sobre a mulher



Elas são as mães:
rompem do inferno, furam a treva,
arrastando
os seus mantos na poeira das estrelas.

Animais sonâmbulos,
dormem nos rios, na raiz do pão.

Na vulva sombria
é onde fazem o lume:
ali têm casa.
Em segredo, escondem
o latir lancinante dos seus cães.

Nos olhos, o relâmpago
negro do frio.

Longamente bebem
o silêncio
nas próprias mãos.

O olhar
desafia as aves:
o seu voo é mais fundo.

Sobre si se debruçam
a escutar
os passos do crepúsculo.

Despem-se ao espelho
para entrarem
nas águas da sombra.

É quando dançam que todos os caminhos
levam ao mar.

São elas que fabricam o mel,
o aroma do luar,
o branco da rosa.

Quando o galo canta
Desprendem-se
para serem orvalho.

Eugénio de Andrade

Foto:Niko Guido

5 comentários:

Paula Raposo disse...

A foto é fantástica! O poema hino à Mulher é sublime!! Eugénio de Andrade e a sensibilidade de um Poeta.

Fatyly disse...

A foto é espectacular, mas não gosto deste poema, não sei a razão, mas não atino com ele. Eugénio é um poeta fantástico e sensível, mas neste não sinto nada disso.

Desculpa a minha verdade

Beijocas

wind disse...

Não tenho nada que desculpar Fatyly:)
Ainda bem que és verdadeira:)
Beijocas*

Geoffrey Kruse-Safford disse...

Haven't commented in ages, Wind. So sorry. I love the photo - it perfectly matches what the poem is saying, as well as the way love works most of the time.

Bom dia, as you folks in the home of the New Europe say, and have a good holiday. Keep up the good work.

wind disse...

Thanks Geoffrey;)