domingo, maio 31, 2009

Poeminha de louvor ao strip-tease secular



Eu sou do tempo em que a mulher
nem mostrava o tornozelo;
que apelo!

Depois, já rapazinho
vi as primeiras pernas de mulher
por sob a curta saia;
que gandaia!

A moda avança,
a saia sobe mais,
mostrando já joelhos
lupercais!

As fazendas com os anos,
se fazem mais leves,
e surgem figurinhas, pelas ruas,
mostrando as lindas formas quase nuas.

E a mania do sport
trouxe o short.

O short amigo,
que trouxe consigo,
o maiô de duas peças.

E logo, de audácia em audácia,
a natureza, ganhando terreno,
sugeriu o biquini,
o maiô, de pequeno, ficando mais pequeno
não se sabendo mais,
até onde um corpo branco,
pode ficar moreno.

Deus, a graça é imerecida,
Mas dai-me ainda
Uns aninhos de vida!

Millôr Fernandes

Foto retirada do Google

sábado, maio 30, 2009

Sol



Já se pôs o sol
gravitante
que de tão grave
proporção
é um produto
que no inverso
proporcional
não me atrai
no quadrado
da distância.

Por isso habito
a Terra...
para baralhar os dados
e jogar de novo...

Paula Raposo, in"Nevou este Verão", pág.12, Apenas Livros Lda

Imagem retirada do Google

sexta-feira, maio 29, 2009

***



"A palavra progresso não terá qualquer sentido quando houver crianças infelizes."

Albert Einstein

Foto retirada do Google

quinta-feira, maio 28, 2009

Haiku LXXXVIII



Acariciam a Lua
os ramos do salgueiro
tocados pela noite.

Manuel Filipe, in"O Sol nos Olhos", pág.37, Apenas Livros Lda

Imagem retirada do Google

quarta-feira, maio 27, 2009

Balada do bom cavaquista



Que eu sempre fui bom cavaquista
nem é preciso repeti-lo:
anos depois já só se avista
tanto canário, tanto grilo,
tanto gorjeio, tanto trilo
que de promessas se guarnece:
um mundo e outro, isto e aquilo,
e o povo tem o que merece.
vi engrossar de boys a lista,
vi saltitar mais do que esquilo,
de galho em galho ser artista,
e armar o estado em crocodilo.
voracidade? era do estilo.
economia? ai que arrefece!
vi portugal vendido ao quilo
e o povo tem o que merece.
vi muito pássaro na pista
já de asa murcha e intranquilo,
já sem alface nem alpista
e já sem grão dentro do silo,
secou a teta e o mamilo,
chegou a hora, chega o stress.
há vários anos que eu refilo,
e o povo tem o que merece.
senhor, na entrada deste asilo,
mordeu-se a isca da benesse
e o povo tem o que merece.

Vasco Graça Moura, visto no Palavras D'Ouro

Imagem daqui

terça-feira, maio 26, 2009

Poesia é...

Poesia é editar uma bela foto da Artista Eli, que me foi oferecida há muito tempo.

"Porque tenho um amigo e coisa mais linda no mundo não há":)

segunda-feira, maio 25, 2009

Poema do silêncio



Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.

Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.

Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
- Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!

Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...

O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.

Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!

Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.

Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!

Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.

Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!

Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.

Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...

Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...

Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome.

José Régio

Estatueta:Rodin

domingo, maio 24, 2009

Poeminha tentando justificar minha incultura



Ler na cama
É uma difícil operação
Me viro e reviro
E não encontro posição
Mas se, afinal,
Consigo um cómodo abandono,
Pego no sono.

Millôr Fernandes

Imagem retirada do Google

sábado, maio 23, 2009

Ausência



Fala

Ouvir-te-ei
Ainda que os segredos
As amoras me chamem

Diz-me
Que existirão lágrimas para chorar
Na velhice
Na solidão

Ainda que acordes os olhos dos deuses

Fala

Ouvir-te-ei
A coragem

Alguém de nós que já não está.

Daniel Faria

Foto retirada do Google

sexta-feira, maio 22, 2009

Sextina



Tanto de amor se disse que não sei
Como dizer que amor é outra coisa
Que nem só o teu corpo me fez rei
Nem tua alma só me deu a rosa
Tanto se disse menos o dizer
Esta paixão que é de todo o ser

E ao fim do ser ainda a outra coisa
Mais do que corpo e alma e ser não ser
Como entre vida e morte e sexo e rosa
Um morrer e um nascer. Como dizer
Este reino em que sou o servo e o rei
Como dizer se tanto e ainda não sei

Como dizer este Elsenor sem rei
Se tanto disse menos o dizer
Esta paixão que sabe o que não sei
Em Elsenor de ser e de não ser
Senão que amor ainda é outra coisa
Como entre o corpo e a morte o anjo e a rosa

Como dizer do sexo a alma e a rosa
Se amor é mais que ter e mais que ser
Um morrer ou nascer ou outra coisa
Entre a vida e a morte e um não dizer
Senão que disse tanto e ainda não sei
Como dizer de amor se servo ou rei

Se disse tanto menos o dizer
Esta paixão da alma que não sei
Se é o sexo ou seu anjo ou só o ser
Entre a vida e a morte o breve rei
Deste reino que fica à beira-rosa
Do teu corpo onde amor é outra coisa

Como dizer de amor ser e não ser
Se amor mais do que amor é outra coisa
Mais do que ser e ter mais que dizer
Um morrer e nascer entre anjo e rosa
Ou entre o corpo e a alma o servo e o rei
Como dizer se tanto e ainda não sei.

Manuel Alegre

Imagem retirada do Google

quinta-feira, maio 21, 2009

Dona Eulália



Quando cheguei, a casa mortuária estava cheia de gente.

No centro da sala, forrada de preto, havia uma essa entre quatro enormes tochas acesas, e sobre a essa um caixão, dentro do qual D. Eulália dormia o último sono.

Já tinha passado a hora do saimento.

Faltava apenas o padre.

O padre não aparecia.

O viúvo, comovido, mas calmo, perfeitamente calmo, perguntou a um parente, que pelos modos tinha se encarregado do enterro:

- Então?.. . esse padre?..

- Já cá devia estar. O Tio Eusébio quer que eu vá buscá-lo?

- É favor, Casuza.

E o parente saiu muito apressado.

Dez minutos depois, o Ensébio aproximou-se de mim e disse-me baixinho:

- E nada de padre! Estava escrito que este dia não passava para mim sem alguma contrariedade...
* * *
Justifiquemos esse grito do coração.

O Eusébio não foi um marido feliz; D. Eulália, que tinha muito mau gênio, transformara-lhe a vida num verdadeiro inferno.

O pobre homem não tinha voz ativa dentro de casa; era repreendido como um fâmulo quando entrava mais tarde; devia dar contas de um níquel, de um miserável níquel que lhe desaparecesse do bolso!

Apesar de casado havia já quinze anos, ele não se pudera habituar a essa existência ridícula, e sentia-se envelhecer prematuramente na alma e no corpo.

Não tinha filhos, - e era melhor assim, porque com certeza, D. Eulália não lhos perdoaria. Pensava bem: pudesse ela contrariar a natureza, e fecundá-lo-ia, para humilhá-lo ainda mais!
* * *
Durante os primeiros tempos de regime conjugal, o Eusébio tentou reagir contra o mau gênio de D. Eulália; num dia, porém, que lhe falou mais alto e lhe bateu o pé, recebeu em troca uma tremenda bofetada, cujo estalo ressoou em todo o quarteirão. Durante quinze dias a vizinhança não se ocupou de outra coisa.

O marido que apanha da cara metade está perdido; o que apanha e chora, está irremessivelmente perdido. O Eusébio apanhou e chorou...

Daquele dia em diante foi-se-lhe toda a autoridade marital: tornou-se em casa um manequim, um pax vobis, um joão-ninguém.

Era, entretanto, um homem simpático, virtuoso, apreciadíssimo por numerosos amigos e muito conceituado na repartição de onde tirava o necessário para que nada faltasse a D. Eulália.
* * *
De todas as maçadas a que estava afeito o nosso Eusébio, nenhuma o ralava tanto como a de procurar cozinheira, o que lhe acontecia a miúdo, porque, graças ao mau gênio da dona da casa, a cozinha estava constantemente abandonada.

Como as impertinências de D. Eulália já tinham fama no bairro, e nenhuma criada queria servir aquela ama, o Eusébio era obrigado a procurar cozinheira muito longe de casa.

O que ele queria era alugá-la, mas bem sabia que, na venda, a recém-chegada seria logo posta ao corrente de tais impertinências.
* * *
Um dia o pobre marido foi muito cedo arrancado da cama pela mulher.

- Levante-se, tome banho, vista-se e vá procurar uma cozinheira!

- Quê!... pois a Maria...?

- Acabo de pô-la no olho da rua!

- Por quê?

- Não é da sua conta! Mexa-se!...

- Uma cozinheira que não estava em casa há oito dias!...

- Basta de observações! Quem manda aqui sou eu! Vamos! vista-se! E nada de agências, hem? olhe que se me traz cozinheira de agência, não passa da porta da rua!
* * *
Nesse dia o Eusébio teria purgado todos os seus pecados, se os tivera, e se D. Eulália não fosse já um purgatório bastante.

O pobre-diabo, que morava no Rio Comprido, foi, levado por informações, procurar uma cozinheira em São Francisco Xavier. Já estava alugada; entretanto, lá lhe disseram que no Morro do Pinto havia outra, muito boa, que lhe devia servir.

O desgraçado almoçou numa casa de pasto, encheu-se de coragem e subiu o Morro do Pinto.

A cozinheira não estava em casa; tinha ido passar uns dias com uma parenta, na Rua de Sorocaba, em Botafogo; mas um vizinho aconselhou o Eusébio a que não adiasse a diligência; a mulher trabalhava primorosamente em forno e fogão, era morigerada e estava morta por achar emprego.

Abalou o Eusébio para Botafogo, e encontrou, efetivamente, a mulher na Rua de Sorocaba, em casa da parenta, pronta já para sair. Por pouco mais, a viagem teria sido baldada.

Era uma mulata quarentona, muito limpa, de um aspecto simpático e humilde, que à primeira vista inspirava certa confiança.

Ela, pelo seu lado, simpatizou com o Eusébio, a julgar pela prontidão com que se ajustaram.

- Bem; amanhã lá estarei, meu patrão.

- Amanhã, não: há de ser hoje, porque se entro em casa sem cozinheira, minha mulher...

O Eusébio interrompeu-se - ia deitando tudo a perder, - e emendou:
... minha mulher, que é muito boa senhora, mas nem sempre acredita no que eu digo, há de supor que me remanchei.

- Nesse caso, meu patrão, é preciso que eu vá primeiramente ao Morro do Pinto.

- Pois vamos ao Morro do Pinto... respondeu resignado o resignado Eusébio.
* * *
Era quase noite fechada, quando o infeliz marido, fatigadíssimo, doente, sem jantar, entrou em casa acompanhado da mulata.

D. Eulália recebeu-o com duas pedras na mão:

- Onde esteve o senhor metido até estas horas? oh! que coisa ruim... que homem insuportável... Só a minha paciência!...

- A senhora não calcula como me custou encontrar esta mulher, mas, enfim... parece que desta vez ficamos bem servidos.

- Pois sim, resmungou D. Eulália, - vão ver que é alguma vagabunda!

E, voltando-se para a mulata, disse-lhe com a sua habitual arrogância:

- Chegue-se mais! Não gosto de gritar e quero que me ouçam!

A cozinheira aproximou-se com um sorriso humilde de subalterna.

- Como se chama? perguntou D. Eulália.

- Eulália.

- Eulália?!

- Eulália, sim, senhora!

- Eulália?! Rua! Rua!

E voltando-se para o marido:

- Pois o senhor tem a pouca vergonha de trazer para casa uma cozinheira com o mesmo nome que eu? Que desaforo!...

- Mas, senhora.

- Cale-se! Não seja burro!
* * *
Creio que o Eusébio está justificado: a morte de D. Eulália não poderia contrariá-lo.

Artur Azevedo

Imagem retirada do Google

quarta-feira, maio 20, 2009

Suicídios ou nem por isso...



Joaquim Sevício decidiu pôr termo à vida atirando-se da janela de sua casa. Como morava no rés-do-chão teve de saltar saltar onze vezes até conseguir despedaçar-se no asfalto.

Fernando Gomes, visto na Minguante.

Foto retirada do Google

terça-feira, maio 19, 2009

O novo Homem



O homem será feito
em laboratório.
Será tão perfeito como no antigório.
Rirá como gente,
beberá cerveja
deliciadamente.
Caçará narceja
e bicho do mato.
Jogará no bicho,
tirará retrato
com o maior capricho.
Usará bermuda
e gola roulée.
Queimará arruda
indo ao canjerê,
e do não-objecto
fará escultura.
Será neoconcreto
se houver censura.
Ganhará dinheiro
e muitos diplomas,
fino cavalheiro
em noventa idiomas.
Chegará a Marte
em seu cavalinho
de ir a toda parte
mesmo sem caminho.
O homem será feito
em laboratório
muito mais perfeito
do que no antigório.
Dispensa-se amor,
ternura ou desejo.
Seja como for
(até num bocejo)
salta da retorta
um senhor garoto.
Vai abrindo a porta
com riso maroto:
«Nove meses, eu?
Nem nove minutos.»
Quem já concebeu
melhores produtos?
A dor não preside
sua gestação.
Seu nascer elide
o sonho e a aflição.
Nascerá bonito?
Corpo bem talhado?
Claro: não é mito,
é planificado.
Nele, tudo exacto,
medido, bem posto:
o justo formato,
o standard do rosto.
Duzentos modelos,
todos atraentes.
(Escolher, ao vê-los,
nossos descendentes.)
Quer um sábio? Peça.
Ministro? Encomende.
Uma ficha impressa
a todos atende.
Perdão: acabou-se
a época dos pais.
Quem comia doce
já não come mais.
Não chame de filho
este ser diverso
que pisa o ladrilho
de outro universo.
Sua independência
é total: sem marca
de família, vence
a lei do patriarca.
Liberto da herança
de sangue ou de afecto,
desconhece a aliança
de avô com seu neto.
Pai: macromolécula;
mãe: tubo de ensaio,
e, per omnia secula,
livre, papagaio, sem memória e sexo,
feliz, por que não?
pois rompeu o nexo
da velha Criação,
eis que o homem feito
em laboratório
sem qualquer defeito
como no antigório,
acabou com o Homem.
Bem feito.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, maio 18, 2009

Haiku LXVIII



O cântico da terra:
-Muito ao longe as estrelas escutam
o grilo, a coruja, a rã
.

Manuel Filipe, in"O Sol nos Olhos", pág.29, Apenas Livros

domingo, maio 17, 2009

***



"As palavras têm a leveza do vento e a força da tempestade."

Victor Hugo

Imagem retirada do Google

sábado, maio 16, 2009

Como odeio banalidades



Eu, que sou mais banal e vulgar que a mais banal das mulheres.
Eu, que sou tão comum que nem preciso olhar-me ao espelho,
Igual que sou a tantas outras mulheres,
Com que me cruzo e das quais não me distingo.
Eu odeio a banalidade!
Odeio as frases feitas de quem pergunta:
- Olá como está? E nem quer saber.
Odeio os bons dias, as boas tardes, as boas noites,
Ditos sem pensar,
Ou a pensar em coisa nenhuma,
Ou a pensar noutra coisa qualquer que não o desejo,
Que o dia, a tarde, ou a noite nos corram bem e sejam bons.
Eu odeio frases feitas!
Odeio as vizinhas à janela,
As amigas e amigos nos cafés, nos bares, nos autocarros,
Com vidas tão fúteis e pequeninas que dissecam as dos outros,
Que cortam a casaca dos melhores amigos pedaço a pedaço
Achando que os amigos são os melhores amigos, e nunca cortariam as deles.
Mas cortam!
E são más-línguas, maus caracteres, sem carácter!
Eu odeio vizinhas a bisbilhotar à janela!
E as pessoas que passam?
E a multidão anónima que percorre as ruas em zig-zag evitando pedintes e mãos que se estendem?
E que colam a mala ao corpo achando que ser pobre é ser ladrão.
E se aconchegam na roupa comprada na zara, ou nos mercados de rua,
Mas muito sua!
E que são caridosos, piedosos, apiedados,
Compreensivos com a desgraça alheia se não tiverem de dar um cêntimo
E a caridade for só da boca para fora!
Eu odeio a caridade hipócrita da multidão!
E os gajos?
Os gajos mesmo gajos!
Os gajos na verdadeira acepção da palavra!
Os que se sentam em esplanadas ou se encostam em montras esperando as mulheres,
As deles,
E discretos apreciam pernas e cus das outras,
As que passam.
E lambem os beiços, e coçam os tomates e pensam ou dizem:
- Esta gaja é muita boa!
Como odeio a frase” esta gaja é muita boa”!
Dita por gajos que em casa têm mulheres que nem olham.
E às quais nem falam.
E que na cama despacham sexo e mulher,
Despejando o desejo das gajas boas que comeram com os olhos.
Na rua.
Ah! Como eu odeio estes gajos!
E as gajas?
As santinhas, as pudicas, as que têm sempre na ponta da língua um:
Ai credo, um julgamento, uma condenação.
As que são contra o aborto, contra a pílula, contra a educação sexual,
Contra tudo que seja sexo!
Escrito, pintado, feito ou falado.
E quando têm “maus pensamentos” correm às sacristias:
- Sr. Padre sonhei que estava a fazer sexo oral, confessam.
Como se sexo oral fosse um pecado capital,
Esquecendo que só o peixe morre pela boca.
E lavam as mãos nas pias,
E cumprem todas as penitências,
Mas falam do sexo da vizinha que é uma descarada.
E são donas de verdades absolutas.
E nunca têm dúvidas.
E só dizem…
B a n a l i d a d e s!
Ah! Como odeio falsas santinhas e ratas de sacristia!
E eu?
Eu que sou banal, normal, vulgar, mas odeio a vulgaridade,
Eu que mando à merda quem me chateia
Eu que escrevo asneiras se me dá na gana,
E que para um sacana sou sacana e meia!
Eu odeio sacanas!
Aqueles de falas mansas e que parecem santos,
E que dão a roupa toda e pelos outros ficam em pêlo,
Mas em casa vão ao pêlo às mulheres,
E deixam-nas:
Negras de pancada,
Negras de dor,
Negras de pavor.
Ah …Se pudesse dava um tiro nos cornos desses sacanas!
E de outros:
Os abusadores, os ladrões de inocências,
Os que roubam infâncias e semeiam pesadelos.
Esses castrava-os a todos!
Os do passado, do presente e do futuro,
Já que a justiça não castra senão a esperança de justiça!

Eu, que sou mais banal e vulgar que a mais banal das mulheres,
Eu, que por fora ninguém distingue ou olha duas vezes ao passar.
Odeio banalidades!

Encandescente, visto no Palavras D'Ouro

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sexta-feira, maio 15, 2009

Bolsas de água



Rompeu-se a bolsa.
Ficou meu filho solitário
Sem o aguado travesseiro.

A minha gata, essa,
É ela quem rasga.
Gestos ternos, precisos.
Lambidela sábia.
Cada gatinho desenrolado da capinha ténue,
Um quase nada que os torna vivos.

A minha bolsa rasgou-se.
Água transparente e muco
(ou seria baça, nem recordo)
A bolsa de águas solta,
Sem mimo e sem segredo,
Instantes antes que viesses ao mundo.

Maria de Fátima

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quinta-feira, maio 14, 2009

A arte de ser amada



Eu sou líquida mas recolhida
no íntimo estanho de uma jarra
e em tua boca um clavicórdio
quer recordar-me que sou ária

aérea vária porém sentada
perfil que os flamingos voaram.
Pelos canteiros eu conto os gerânios
de uns tantos anos que nos separam.

Teu amor de planta submarina
procura um húmido lugar.
Sabiamente preencho a piscina
que te dê o hábito de afogar.

Do que não viste a minha idade
te inquieta como a ciência
do mundo ser muito velho
três vezes por mim rodeado
sem saber da tua existência.

Pensas-me a ilha e me sitias
de violinos por todos os lados
e em tua pele o que eu respiro
é um ar de frutos sossegados.

Natália Correia

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quarta-feira, maio 13, 2009

Haiku XLVII



Crepúsculo verde-
as algas seguem o Sol
e resplandecem no mar.

Manuel Filipe, in"O Sol nos Olhos", pág.21, Apenas Livros

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terça-feira, maio 12, 2009

Um sorriso para Cibele



Aqui não há nada, Cibele,
a não ser uma alameda estreita
com renques de flores à esquerda e à direita.

As flores são daquelas de que eu não gosto, Cibele.
Pretensiosas.
Zínias, dálias, crisântemos, margaridas e rosas.
As flores de que eu gosto são das que ninguém planta nem semeia,
daquelas que a gente passa e diz: "Olhe, faz-me favor.
Sabe-me dizer como se chama esta flor?"

Não gosto delas, não,
mas à falta de melhor, Cibele,
é nelas que cevo a minha solidão.

Todas as manhãs quando aqui passo para as ver
acaricio-as à flor da pele
e balbucio as palavras que ficaram por dizer.

Assim se vai passando o tempo, Cibele.

António Gedeão, in"Poesia Completa António Gedeão", pág.143, Ed. João Sá da Costa LDA

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segunda-feira, maio 11, 2009

3ª. Edição do Prémio Literário da Lusofonia

3ª. Edição do Prémio Literário da Lusofonia.

Regulamento para quem gosta e sabe escrever.

Salvador Dali (11 de Maio de 1904-23 de Janeiro de 1989)

Insinceridade



Quis-nos aos dois enlaçados
meu amor ao lusco-fusco
mas sem saber o que busco:
há poentes desolados
e o vento às vezes é brusco

nem o cheiro a maresia
a rebate nas marés
na costa de lés a lés
mais tempo nos duraria
do que a espuma a nossos pés

a vida no sol-poente
fica assim num triste enleio
entre melindre e receio
de que a sombra se acrescente
e nós perdidos no meio

sem perdão e sem disfarce,
sem deixar uma pegada
por sobre a areia molhada,
a ver o dia apagar-se
e a noite feita de nada

por isso afinal não quero
ir contigo ao lusco-fusco,
meu amor, nem é sincero
fingir eu que assim te espero,
sem saber bem o que busco.

Vasco Graça Moura

Foto retirada do Google

domingo, maio 10, 2009

***



"Não são as catástrofes, assassinatos, mortes, doenças, que nos envelhecem e nos matam; é a forma como as pessoas olham e riem, e apressam os passos para os ônibus."

Virginia Woolf

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sábado, maio 09, 2009

Haiku XLVIII



Fora, cai a chuva.
Dentro, os amantes desejam
que ela nunca acabe.

Manuel Filipe, in"O sol nos Olhos", pág.21. Apenas Livros

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sexta-feira, maio 08, 2009

Escuridão



Entrei e fechei a porta.

Se tocarem,
Não atendo.
Não entra ninguém.
Chega de querer
Impossíveis
De percorrer
Imensos corredores
De um lado para o outro
E gastar o soalho
Com o meu peso...
Basta de escuridão,
Agora mereço
Um pouco de luz!

Paula Raposo, in"Nevou este Verão", pág. 26, Apenas Livros

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quinta-feira, maio 07, 2009

Dominó Original



Fantástico.

Invento-me



Invento-me neste desejo de te abraçar...

Invento-me hera, planta trepadeira,
agarro minhas gavinhas,
minhas expansões, com força,
em tuas estacas, para me poder à terra fixar...

Invento-me abelha, insecto,
Apenas para invadir a tua flor,
Que nasceu de meu desejo,
Para em teu mel, esse néctar,
a minha sede eu poder saciar ....

Invento-me leoa perdida de seu cio,
À procura de um trilho, um sinal, rasto teu,
Para que na floresta da vida,
Eu te possa encontrar...

Invento-me vento , Nortada, brisa, aragem,
Para de forma empolgada,
Agitar teu rio, ondular teu mar...

Invento-me, nestas todas metamorfoses
de ser eu própria, que trago silenciadas no meu espírito,
E ensaio-me assim, neste ser,
Nestas mil formas adoptadas,
Só porque te encontro ao inventar-me,
Mas porque te invento somente a ti!

Beatriz Barroso

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quarta-feira, maio 06, 2009

Jason Mraz -I'm Yours (live)


Excelente versão:)

PS:Desligar o som do blog no lado direito.

Velha Fábula em Bossa Nova



Minuciosa formiga
não tem que se lhe diga:
leva a sua palhinha
asinha, asinha.

Assim devera eu ser
e não esta cigarra
que se põe a cantar
e me deita a perder.

Assim devera eu ser:
de patinhas no chão,
formiguinha ao trabalho
e ao tostão.

Assim devera eu ser
se não fora
não querer.

(-Obrigado,formiga!
Mas a palha não cabe
onde você sabe...)

Alexandre O'Neill

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terça-feira, maio 05, 2009

***



"Se alguém te perguntar o que quiseste dizer com um poema, pergunta-lhe o que Deus quis dizer com este mundo..."

Mário Quintana

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segunda-feira, maio 04, 2009

Chico



Um dia o Chico, moço muito serviçal, muito amigo do seu amigo, foi chamado à casa do Dr. Miranda, que o conhecia desde pequeno, e abusava sempre do seu caráter obsequioso e humilde.
- Mandei-te chamar, meu rapaz, para te incumbir de uma comissão que só tu poderás desempenhar a meu gosto.
- Estou às suas ordens.
- Conheces a Maricota, minha irmã. É uma tola que, em rapariga, enjeitou bons casamentos, sempre à espera de um príncipe, como nos contos de fadas, e agora, que vai caminhando a passos agigantados para os quarenta, embeiçou-se por um tipo que costuma passar cá por casa e nem ela, nem eu, sabemos quem é.
- Ele chama-se...?
- Alexandrino Pimentel. É o nome com que assinou a carta, assaz lacônica, em que declarou à Maricota que a amava e desejava ser seu esposo. Já me disseram - e é tudo quanto sei a seu respeito - que esteve empregado na estrada de ferro, onde não esquentou lugar. Preciso de mais amplas e completas informações a respeito desse indivíduo e, para obtê-las, lembrei-me de ti que és esperto e conheces meio mundo.
O Chico dissimulou uma careta.
- Minha irmã, continuou o Dr. Miranda, já fez 37 anos, mas é minha irmã, e eu, como chefe de família, farei o possível para evitar que ela se ligue a um homem que não seja um homem de bem, não achas?
- Certamente.
- Portanto, meu rapaz, peço-te que indagues e me venhas dizer quem é, ao certo, esse Alexandrino Pimentel, que quer ser meu cunhado. Peço-te igualmente que desempenhes essa comissão com a brevidade possível, pois uma senhora de 37 anos, quando lhe falam em casamento, fica assanhada que nem um macaco a quem se mostra uma banana.
O Chico pôs-se a coçar a cabeça e não disse nada. Bem sabia quanto era espinhosa tal comissão, mas não tinha forças para recusar os seus serviços a pessoa alguma, e muito menos ao Dr. Miranda, que era o seu médico, já o havia sido de seus pais e nunca lhes mandara a conta.
- Está dito?
- Está dito. Vou indagar quem é o tal Alexandrino Pimentel, e pode contar que dentro de três ou quatro dias terá os esclarecimentos que deseja.
No mesmo dia, o Chico foi ter com um velho camarada, empregado antigo da Central, e perguntou-lhe se conhecia um sujeito que ali tinha estado algum tempo, chamado Alexandrino Pimentel.
- Um bêbado! - respondeu prontamente o outro.
- Bêbado?
- Bêbado, sim! Foi por isso que o Passos o pôs na rua!
- Mas não se terá corrigido?
- Não sei; nunca mais ouvi falar nele. Quem te pode informar com segurança é o Trancoso. - Sim, que ele era casado com a filha do Trancoso, por sinal que não se dava com o sogro.
- Casado?
- Casado, sim!
- Quem é esse Trancoso?
- Um ex-colega meu, aposentado há uns quatro anos. Mora lá para os lados de Inhaúma.
- Podes dar-me um bilhete de apresentação para ele?
- Pois não!
No dia seguinte o Chico estava em Inhaúma, à procura do tal Trancoso, que já lá não morava; havia seis meses que se mudara para Copacabana, onde adquirira uma casinha; entretanto o pobre rapaz não esmoreceu diante de uma tremenda maçada, e no outro dia, depois de duas horas de indagações, batia à porta do Trancoso.
Veio abrir-lha um velho asmático, envolvido numa capa, lenço de seda ao pescoço, carapuça enterrada até às orelhas, barba por fazer, cara de poucos amigos.
Quando o Chico pronunciou o nome de Alexandrino Pimentel, o velho enfureceu-se, gritando que nada tinha de comum com "esse bandido"!
- Mas não é ele seu genro?
- Foi por desgraça minha, mas já o não é, pois deu tantos desgostos à minha filha, que a matou!
- Eu desejava apenas tomar algumas informações a respeito desse homem. Trata-se de coisa grave. Ele pretende casar-se em segundas núpcias, e foi a família da noiva que me pediu para...
- Pois, meu caro senhor, as informações que lhe tenho a dar são as seguintes: o sujeito de quem se trata é malandro, bêbado, devasso jogador e bruto. Bruto a ponto de bater, como batia na sua própria mulher! Se a tal senhora, com quem ele se pretende casar, quiser passar fome e ser armazém de pancada, não poderá escolher melhor! E agora, meu caro amigo, que tem as informações que desejava, passe muito bem! Deixe-me em paz, porque sou doente, e as visitas aborrecem-me!...
Dizendo isto, o velho foi empurrando o Chico para a porta da rua.
Este saiu perfeitamente edificado a respeito de Alexandrino Pimentel, mas, ao ar livre, refletiu que todas essas informações, partindo de um homem tão apaixonado e tão grosseiro, poderiam ser, pelo menos até certo ponto, injustas; por isso pôs-se de novo em campo e, indaga daqui, pergunta dacolá, chegou, depois de conversar com dez ou doze pessoas fidedignas, à firme convicção de que tudo aquilo era a pura expressão da verdade.
Essas pesquisas tomaram-lhe mais tempo do que três ou quatro dias dentro dos quais prometera voltar à casa do Dr. Miranda. Quando voltou, já os amores de Maricota e Alexandrino haviam assumido proporções consideráveis, e o Dr. Miranda tinha revelado à irmã que o obsequioso Chico se incumbira de tomar informações a respeito do pretendente.
- Que diabo! Julguei que você não me aparecesse mais. - exclamou o médico ao ver então o seu cliente gratuito.
- A coisa deu mais trabalho do que eu supunha, e eu não quis fazer nada no ar. Trago-lhe informações seguras!
- Boas ou más?
- Péssimas.
O Dr. Miranda chamou a irmã, que acudiu logo.
- Olha, Maricota, aqui tens o Chico; vai dizer-nos quem e o teu Pimentel.
- Pois diga! - resmungou Maricota com um olhar zangado, adivinhando os horrores trazidos pelo Chico.
Este voltou-se para o Dr. Miranda e disse-lhe:
- O senhor coloca-me numa situação difícil. Julguei que isto não passasse de nós dois, mas agora, em presença de D. Maricota, sinto-me acanhado e receoso, porque não posso dizer senão a verdade, e a verdade é muito desagradável.
- Minha irmã é a principal interessada neste assunto, redarguiu o doutor, e deve até agradecer-lhe o trabalho que você teve com esse inquérito. O seu dever de amigo está cumprido; ela que o ouça e faça o que entender; é senhora das suas ações.
O Chico, arrependido já de se haver metido naquele incidente de família, contou minuciosamente as diligências que fizera e o resultado a que chegara.
Quando ele acabou o relatório:
- Tudo isso é calúnia, calúnia, calúnia torpe! - bradou Maricota, fula de raiva e batendo o pé. - E quando seja verdade, gosto dele. Ele gosta de mim, e havemos de ser um do outro, venha embora o mundo abaixo!
Não houve palavras que a convencessem de que tal casamento seria um desastre. Diante da vergonha, com que ela ameaçou o irmão de sair de casa para ir ter com o seu amado, o Dr. Miranda curvou a cabeça, e o casamento fez-se.
Fez-se, e não há notícia de casal mais venturoso!
Alexandrino, que se empregara numa importante casa comercial, era um marido solícito, dedicado, carinhoso e previdente; não ia a passeio ou a divertimento sem levar Maricota; não bebia senão água; não jogava senão a bisca em família - e todas essas virtudes eram naturalmente realçadas pela terrível perspectiva de que ele seria o contrário.
- Maricota apanhou a sorte grande! - diziam os amigos e parentes, inclusive o Dr. Miranda.
Este, desde que as virtudes do cunhado se manifestaram, começou a tratar com frieza o informante.
O pobre Chico perdeu o amigo e o médico, foi odiado por Maricota por ter pretendido frustrar a sua aventura, e o regenerado Pimentel, quando soube da comissão que ele desempenhara, segurou-o um dia com as duas mãos pela gola do casaco, e sacudiu-o dizendo-lhe:
- Eu devia quebrar-te a cara, miserável, mas perdôo-te, porque és um desgraçado!.
Moralidade do conto: ninguém se meta na vida alheia, principalmente quando se trate de evitar um casamento serôdio.

Artur Azevedo

Imagem retirada do Google

domingo, maio 03, 2009

Rosa e lírio



A rosa
É formosa
Bem sei.
Porque lhe chamam – flor
D'amor,
Não sei.
A flor,
Bem de amor
É o lírio;
Tem mel no aroma, – dor
Na cor
O lírio.

Se o cheiro
É fagueiro
Na rosa;
Se é de beleza – mor
Primor
A rosa:

No lírio
O martírio
Que é meu
Pintado vejo: – cor
E ardor
É o meu.

A rosa
É formosa,
Bem sei...
E será de outros flor
D'amor...
Não sei

Almeida Garrett

Imagem retirada do Google

sábado, maio 02, 2009

Identidade



Preciso ser um outro
para ser eu mesmo

Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta

Sou pólen sem insecto

Sou areia sustentando
o sexo das árvores

Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro

No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço.

Mia Couto

Foto retirada do Google

sexta-feira, maio 01, 2009

Maio maduro Maio



Maio maduro Maio
Quem te pintou
Quem te quebrou o encanto
Nunca te amou
Raiava o Sol já no Sul
E uma falua vinha
Lá de Istambul

Sempre depois da sesta
Chamando as flores
Era o dia da festa
Maio de amores
Era o dia de cantar
E uma falua andava
Ao longe a varar

Maio com meu amigo
Quem dera já
Sempre depois do trigo
Se cantará
Qu'importa a fúria do mar
Que a voz não te esmoreça
Vamos lutar

Numa rua comprida
El-rei pastor
Vende o soro da vida
Que mata a dor
Venham ver, Maio nasceu
Que a voz não te esmoreça
A turba rompeu

Zeca Afonso

Foto retirada do Google