sábado, junho 30, 2007

Klimt (Animação da sua pintura)



Visto na Artista Gi, que não me canso de recomendar a visita, pois por muito stressada que uma pessoa esteja, ali ao ver tanta maravilha, esquece tudo:)

Teu corpo claro e perfeito



Teu corpo claro e perfeito,

– Teu corpo de maravilha,
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha...

Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa... flor de laranjeira...

Teu corpo, branco e macio,
É como um véu de noivado...

Teu corpo é pomo doirado...

Rosal queimado do estio,
Desfalecido em perfume...

Teu corpo é a brasa do lume...

Teu corpo é chama e flameja
Como à tarde os horizontes...

É puro como nas fontes
A água clara que serpeja,
Quem em antigas se derrama...

Volúpia da água e da chama...

A todo o momento o vejo...
Teu corpo... a única ilha
No oceano do meu desejo...

Teu corpo é tudo o que brilha,
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa, flor de laranjeira...

Manuel Bandeira

Foto:Miles Morgan

Sócrates O Ditador



Há imenso tempo que ando a escrever aqui e em comentários que já estamos numa Ditadura. Na minha vida real tenho igualmente conversas com colegas.
Ontem uma a propósito do que estávamos a falar, ficou de me enviar um email, visto que não sou assinante do jornal Público e decidi postar.
Felizmente há quem tenha o dom de escrever o que penso!


Introdução:

Magistralmente explicado por António Barreto, o perfil ditatorial do actual
primeiro ministro, o pseudo licenciado, José Sócrates Pinto de Sousa.

Um sereno e verdadeiro retrato do que está a acontecer ao nosso país sobre
a égide do ditador Sócrates. A Democracia portuguesa está a ser vendida a
retalho!

Sócrates o ditador (por António Barreto)

"A saída de António Costa para a Câmara de Lisboa pode ser
interpretada de muitas maneiras. Mas, se as intenções podem ser
interessantes, os resultados é que contam.

Entre estes, está o facto de o candidato à autarquia se ter afastado
do governo e do partido, o que deixa Sócrates praticamente sozinho à
frente de um e de outro. Único senhor a bordo tem um mestre e uma
inspiração. Com Guterres, o primeiro-ministro aprendeu a ambição
pessoal, mas, contra ele, percebeu que a indecisão pode ser fatal.

A ponto de, com zelo, se exceder: prefere decidir mal, mas
rapidamente, do que adiar para estudar. Em Cavaco, colheu o desdém
pelo seu partido. Com os dois e com a sua própria intuição
autoritária, compreendeu que se pode governar sem políticos.

Onde estão os políticos socialistas? Aqueles que conhecemos, cujas
ideias pesaram alguma coisa e que são responsáveis pelo seu passado?
Uns saneados, outros afastados. Uns reformaram-se da política, outros
foram encostados. Uns foram promovidos ao céu, outros mudaram de
profissão. Uns foram viajar, outros ganhar dinheiro. Uns desapareceram
sem deixar vestígios, outros estão empregados nas empresas que
dependem do Governo. Manuel Alegre resiste, mas já não conta.

Medeiros Ferreira ensina e escreve. Jaime Gama preside sem poderes.
João Cravinho emigrou. Jorge Coelho está a milhas de distância e vai
dizendo, sem convicção, que o socialismo ainda existe. António
Vitorino, eterno desejado, exerce a sua profissão.

Almeida Santos justifica tudo. Freitas do Amaral reformou-se. Alberto
Martins apagou-se. Mário Soares ocupa-se da globalização. Carlos César
limitou-se definitivamente aos Açores. João Soares espera. Helena
Roseta foi à sua vida independente. Os grandes autarcas do partido
estão reduzidos à insignificância. O Grupo Parlamentar parece um
jardim-escola sedado. Os sindicalistas quase não existem. O actual
pensamento dos socialistas resume-se a uma lengalenga pragmática,
justificativa e repetitiva sobre a inevitabilidade do governo e da
luta contra o défice. O ideário contemporâneo dos socialistas
portugueses é mais silencioso do que a meditação budista. Ainda por
cima, Sócrates percebeu depressa que nunca o sentimento público
esteve, como hoje, tão adverso e tão farto da política e dos
políticos. Sem hesitar, apanhou a onda.

Desengane-se quem pensa que as gafes dos ministros incomodam Sócrates.
Não mais do que picadas de mosquito. As gafes entretêm a opinião,
mobilizam a imprensa, distraem a oposição e ocupam o Parlamento. Mas
nada de essencial está em causa. Os disparates de Manuel Pinho fazem
rir toda a gente. As tontarias e a prestidigitação estatística de
Mário Lino são pura diversão. E não se pense que a irrelevância da
maior parte dos ministros, que nada têm a dizer para além dos seus
assuntos técnicos, perturba o primeiro-ministro. É assim que ele os
quer, como se fossem directores-gerais. Só o problema da Universidade
Independente e dos seus diplomas o incomodou realmente. Mas
tratava-se, politicamente, de questão menor. Percebeu que as suas
fragilidades podiam ser expostas e que nem tudo estava sob controlo.
Mas nada de semelhante se repetirá.

O estilo de Sócrates consolida-se. Autoritário. Crispado. Despótico.
Irritado. Enervado.

Detesta ser contrariado. Não admite perguntas que não estavam
previstas. Pretende saber, sobre as pessoas, o que há para saber.
Deseja ter tudo quanto vive sob controlo.

Tem os seus sermões preparados todos os dias. Só ele faz política,
ajudado por uma máquina poderosa de recolha de informações, de
manipulação da imprensa, de propaganda e de encenação. O verdadeiro
Sócrates está presente nos novos bilhetes de identidade, nas
tentativas de Augusto Santos Silva de tutelar a imprensa livre, na
teimosia descabelada de Mário Lino, na concentração das polícias sob
seu mando e no processo que o Ministério da Educação abriu contra um
funcionário que se exprimiu em privado. O estilo de Sócrates está
vivo, por inteiro, no ambiente que se vive, feito já de medo e
apreensão. A austeridade administrativa e orçamental ameaça a
tranquilidade de cidadãos que sentem que a sua liberdade de expressão
pode ser onerosa. A imprensa sabe o que tem de pagar para aceder à
informação. As empresas conhecem as iras do Governo e fazem as contas
ao que têm de fazer para ter acesso aos fundos e às autorizações.

Sem partido que o incomode, sem ministros politicamente competentes e
sem oposição à altura, Sócrates trata de si. Rodeado de adjuntos
dispostos a tudo e com a benevolência de alguns interesses económicos,
Sócrates governa. Com uma maioria dócil, uma oposição desorientada e
um rol de secretários de Estado zelosos, ocupa eficientemente, como
nunca nas últimas décadas, a Administração Pública e os cargos
dirigentes do Estado. Nomeia e saneia a bel-prazer. Há quem diga que o
vamos ter durante mais uns anos. É possível. Mas não é boa notícia. É
sinal da impotência da oposição. De incompetência da sociedade. De
fraqueza das organizações. E da falta de carinho dos portugueses pela
liberdade."

[Público assinantes]

Foto:Manuel Ribeiro

Gaivota















Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se um português marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um olhar de novo brilho
no meu olhar se enlaçasse.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se ao dizer adeus à vida
as aves todas do céu,
me dessem na despedida
o teu olhar derradeiro,
esse olhar que era só teu,
amor que foste o primeiro.

Que perfeito coração
no meu peito morreria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde perfeito
bateu o meu coração.

Alexandre O'Neill

Foto:Robert Ziehm

sexta-feira, junho 29, 2007

O que é um avô (retirado de papéis escritos numa turma de 8 anos)*



Os avós são uma senhora e um homem que não têm
crianças pequenas. Eles gostam das dos outros. Um avô
é um homem e uma avó é uma senhora!

Os avós não tem nada para fazer senão estarem lá quando
a gente os vai ver.
Eles são tão velhos que não devem brincar muito nem
correr. É bom quando eles nos levam de carro às lojas e
nos dão dinheiro.

Quando eles nos levam a passear eles abrandam quando passamos coisas como folhas bonitas e caterpilares.
Eles mostram-nos e falam com a gente sobre a cor das
flores. Eles não dizem "Despacha-te."
Normalmente as avós são gordas mas não demasiado
gordas para nos atar os sapatos. Eles usam óculos e
roupa interior engraçada. Podem tirar os dentes para fora.

Os avós não têm que ser espertos.
Eles têm que responder a perguntas como
"Porque é que Deus não é casado?" e
"Porque é que os cães perseguem os gatos?"

Quando eles lêem para nós não saltam páginas. Não se
importam se lhes pedimos a mesma história outra vez.

Foi perguntado a um de 6 anos onde é que a avó dele vivia.
"Oh" - disse ele - ela vive no aeroporto e quando nós a
queremos ver vamos lá buscá-la. Depois quando
acabamos a visita dela vamos levá-la outra vez ao
aeroporto."

Todas as pessoas deviam tentar ter uma avó,
especialmente quem não tem televisão porque eles
são os únicos adultos que gostam de passar tempo
com a gente.
Eles sabem que a gente deve cear antes da hora de dormir
e dizem sempre orações com a gente e dão-nos beijos
mesmo quando a gente se portou mal.

O avô é o homem mais esperto da Terra! Ele ensina-me
coisas boas mas não consigo vê-lo tantas vezes para
ficar tão esperto como ele.

É divertido quando eles se inclinam, a gente ouve-os
soltar gazes e eles deitam as culpas pra cima do cão.

*Recebido por email

Foto:Mehmet Akin

No Fundo Aberto
















Escrevo-te enquanto algo resvala, acaricia, foge
e eu procuro tocar-te com as sílabas do repouso
como se tocasse o vento ou só um pássaro ou uma folha.
Chegaste comigo ao fundo aberto sob um céu marinho,
sobre o qual se desenham as nuvens e as árvores.
Estamos na aurícola do coração do mundo.
O que perdemos ganhamo-lo na ondulação da terra.
Tudo o que queremos dizer sai dos lábios do ar
e é a felicidade da língua vegetal
ou a cabeça leve que se inclina para o oriente.
Ali tocamos um nó, uma sílaba verde, uma pedra de sangue
e um harmonioso astro se eleva como uma espádua fulgurante
enquanto um sopro fresco passa sobre as luzes e os lábios.

António Ramos Rosa

Foto:Wilson Tsoi

quinta-feira, junho 28, 2007

O «Professor Titular» visto pel'A BOLA*



"As nossas escolas lançam-se, definitivamente, na arrojada experiência do mundo da bola. Com uma Ministra apostada em ser um género de Scolari da educação, o Ministério investe na divisão sectarista entre (professores) titulares e suplentes.

Os titulares serão, então, convocados à luz de uma escolha surpreendente. Mais importante do que saber dar aulas e ter sucesso na relação educativa com os alunos, interessará saber como pisar a alcatifa dos gabinetes, ter prática de carreira burocrática fora da sala de aulas e, acima de tudo, não ter tido lesões que obriguem a paragens mais ou menos longas no Campeonato, mesmo que por culpa de qualquer sarrafada alheia .A táctica é, pois, não ter vida para além do dever.

O destino é entregar a titularidade professoral aos mais dignos ratos de sacristia. Por isso, não bastará saber marcar golos. E, tal como em alguns clubes de futebol manhosos, é preciso não esquecer de elogiar o presidente e ser de uma fidelidade canina ao treinador."

Do jornal A BOLA (pag.9 - Vítor Serpa, Director do jornal)

*Recebido por email

Caricatura:GON

Barber's Adagio For Strings, Op. 11



Angus Dei - Coro do Trinity College - Cambridge, o ambiente apropriado para as magníficas imagens apresentadas no vídeo.

Imagens espaciais magníficas!

Visto na Gi.

PS:Desligar o som do blog do lado direito, por favor.

De alma aberta



Tomai-me as ancas fartas dão para égua
e as açucenas que ainda são mamudas.
Dos olhos tomai pranto, é boa rega,
já que a chorar por vós vos dei fartura.

Dos ouvidos, silvos que os ocuparam
tomai que até farelo pus em música.
Calo a farinha. Anjos a trituraram.
De agro celeste, o grão não mói a Musa.

De árduos sentidos que chamais pecados
tomai só os mortais. Dão uma récua.
Dos imortais nem um que são velados
por vapores de alvorada paraclética.

Tomai riso também se quereis folia:
mete rabeca e balho o Sprito Santo.
Nos fúlgidos milagres da pombinha
embuça-se o divino no profano.

Tomai polme a ferver de ilhoa irada,
mesmo o coice que dá depois de morta.
Eu deito fogo para não ser queimada.
Mas serva e cerva sou por trás da porta.

Tomai gestos que são dos sete palmos
e para vermes eu não ponho a rubrica.
De publicar-me em pó estais perdoados.
Devo-me eterna vendida em hasta pública.

Traficantes de peles, à puridade
vos digo: só mentira arrecadais.
Porque tal como o lótus, a verdade
vos dou na comunhão que não tomais.

Natália Correia

Foto:Yuri Bonder

quarta-feira, junho 27, 2007

Campo de flores



Deus me deu um amor no tempo de madureza,
quando os frutos ou não são colhidos ou sabem a verme.
Deus-ou foi talvez o Diabo-deu-me este amor maduro,
e a um e outro agradeço, pois que tenho um amor.

Pois que tenho um amor, volto aos mitos pretéritos
e outros acrescento aos que amor já criou.
Eis que eu mesmo me torno o mito mais radioso
e talhado em penumbra sou e não sou, mas sou.

Mas sou cada vez mais, eu que não me sabia
e cansado de mim julgava que era o mundo
um vácuo atormentado, um sistema de erros.
Amanhecem de novo as antigas manhãs
que não vivi jamais, pois jamais me sorriram.

Mas me sorriam sempre atrás de tua sombra
imensa e contraída como letra no muro
e só hoje presente.
Deus me deu um amor porque o mereci.
De tantos que já tive ou tiveram em mim,
o sumo se espremeu para fazer vinho
ou foi sangue, talvez, que se armou em coágulo.

E o tempo que levou uma rosa indecisa
a tirar sua cor dessas chamas extintas
era o tempo mais justo. Era tempo de terra.
Onde não há jardim, as flores nascem de um
secreto investimento em formas improváveis.

Hoje tenho um amor e me faço espaçoso
para arrecadar as alfaias de muitos
amantes desgovernados, no mundo, ou triunfantes,
e ao vê-los amorosos e transidos em torno,
o sagrado terror converto em jubilação.

Seu grão de angústia amor já me oferece
na mão esquerda. Enquanto a outra acaricia
os cabelos e a voz e o passo e a arquitetura
e o mistério que além faz os seres preciosos
à visão extasiada.

Mas, porque me tocou um amor crepuscular,
há que amar diferente. De uma grave paciência
ladrilhar minhas mãos. E talvez a ironia
tenha dilacerado a melhor doação.
Há que amar e calar.
Para fora do tempo arrasto meus despojos
e estou vivo na luz que baixa e me confunde.

Carlos Drummond de Andrade

Foto:Hanna Björkstedt

terça-feira, junho 26, 2007

O suicida



O suicídio
não é algo pessoal
Todo suicida
nos leva
ao nosso funeral

O suicida
não é só cruel consigo.
É cruel, como cruel
só sabe ser
- o melhor amigo.
O suicida
é aquele que pensa
matar seu corpo a sós
Mas o seu eu se enforca
num cordão de muitos nós.

O suicida
não se mata em nossas costas.
Mata-se em nossa frente
usando seu próprio corpo
dentro de nossa mente.

O suicida
não é o operário
É o próprio industrial, em greve.
É o patrão
que vai aonde
o operário não se atreve.

Todo homem é mortal.
Mas alguns, mais que outros,
fazem da morte
- um ritual

O suicida, por exemplo,
é um vivo acidental.
É o general
que se equivocou de inimigo

e cravou sua espada
na raiz do próprio umbigo.
Mais que o espectador
que saiu no entreato,
o suicida
é um ator
que questionou o teatro.

O suicida
é um retratista
que às claras se revela.
Ao expor seu negativo,
queima o retrato
- e se vela.

O suicida, enfim,
é um poeta perverso
e original
que interrompeu seu poema
antes do ponto final.

Affonso Romano de Sant'Anna

Foto:Mehmet Turgut

segunda-feira, junho 25, 2007

Faz-me o favor



Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.

É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das caras e dos dias.

Tu és melhor - muito melhor!
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.

Mário Cesariny

Foto:Joel Riner

domingo, junho 24, 2007

Que outros risos...



Cantamos o cristal,
a essencial lucidez da onda
sublimada pelo vento,
o doce canto da mãe,
o seu filho que dorme,
o grito das romãs
que se oferecem à luz.

Que outros risos ecoam
na morada das águas?


Manuel Filipe, in "Tempo de Cinzas", pág.52, Apenas Livros

Foto:Zacarias Pereira da Mata

Orquesta Vegetal



Os músicos tocam com vegetais e no fim fazem sopa para quem assiste aos concertos.

Maravilhoso de se ver!

Visto na Artista Gi, para variar:)

Você



Você, com aquelas conversas moles
Pro meu lado
Arrastando asa
Puxando brasa
Falando que guarda minhas poesias
Do lado da cama
E aí, falei
Como ameaça,
Que ia te dar um beijo
Meio com medo
De ter a mesma negativa
De antes
Teu silêncio foi resposta
Muito mais a cadeira do lado
Onde sentaste, deixando
Meu lado tão quentinho, agarrado e encontrado.

Claudio Antunes Boucinha

Foto:Christian Coigny

sábado, junho 23, 2007

Dos prazeres no céu



Dos prazeres no céu
Que Mahomet promete,
Não trocava sete
Só por este meu.

Ver, enquanto ceio,
Teu olhar, Suzette,
Como se reflecte
No meu copo cheio.

Assim, com certeza,
Por mais que a desdenhe,
Na vida há beleza
Enquanto há champagne.

Reinaldo Ferreira

Foto:Joost Weddepohl

Meu claro amor



Ao meu claro amor
não peço nada,
apenas a sua voz decantada pelos búzios
na madrugada.

Manuel Filipe, in "Tempo de Cinza", pág.17, Apenas Livros

Foto:A.Obolenski

sexta-feira, junho 22, 2007

7 Maravilhas da Blogosfera


O Papagueno nomeou-me para as 7 Maravilhas da Blogosfera. Agradeço-lhe porque é um elogio ao Webclub.

O conceito e regulamento partiram do O Sentido das Coisas.
Lá poderão consultar e proceder em conformidade.

Agora deveria nomear 7 blogs, mas não o vou fazer e explico a razão:

Dos poucos blogs que leio, gosto de todos e são mais que 7.
Se nomeasse só 7 estaria a ser injusta com uns e pior não estava a agir bem com a minha consciência.

Se a autora da ideia O Sentido das Coisas resolver tirar-me este prémio, esteja à vontade, porque não gosto de concursos, estou na blogosfera porque gosto, não estou a competir com ninguém e quem me conhece sabe que é verdade.

Cúmplices-Mafalda Veiga(Ao vivo no Coliseu)



A noite vem às vezes tão perdida
E quase nada parece bater certo
Há qualquer coisa em nós inquieta e ferida
E tudo o que era fundo fica perto

Nem sempre o chão da alma é seguro
Nem sempre o tempo cura qualquer dor
E o sabor a fim do mar que vem do escuro
É tanta vezes o que resta, do calor

Se eu fosse a tua pele
Se tu fosses o meu caminho
Se nenhum de nós se sentisse nunca sozinho

Trocamos as palavras mais escondidas
Que só a noite arranca sem doer
Seremos cúmplices o resto da vida
Ou talvez só ate amanhecer

Fica tão fácil entregar a alma
A quem nos traga um sopro do deserto
Olhar onde a distância nunca acalma
Esperando o que vier de peito aberto

Se eu fosse a tua pele
Se tu fosses o meu caminho
Se nenhum de nós se sentisse nunca sozinho.

Mafalda Veiga



Foto:Evgeny Gusev

PS:Desligar o som do blog do lado direito por favor.

"Blog com grelos"

A Marta F. Criadora do Blog com Grelos, achou que depois de tantos prémios me faltava este.

"O prémio "Blogue com Grelos", destina-se a distinguir a escrita no feminino, em toda a net lusófona.
Não serão permitidas nomeações de blogues de escrita no masculino ou com participação masculina."

Claro que só posso levar isto na brincadeira:) Logo eu:)))))


Vou fazer-lhe a vontade e passar a "pasta" a outros 5 blogs e desculpem quem não é contemplado:-)

...e Capricórnia Sou Eu!!!

Imagine Me And You...Forever

Me, Myself And I

Pandora's Box 2.0

Snail Tale

E agora desenrasquem-se! Ufa!

PS:No dia 24 a Seila também me deu o prémio:)

Se eu nunca disse que os teus dentes



Se eu nunca disse que os teus dentes
São pérolas,
É porque são dentes.
Se eu nunca disse que os teus lábios
São corais,
É porque são lábios.
Se eu nunca disse que os teus olhos
São d'ónix, ou esmeralda, ou safira,
É porque são olhos.
Pérolas e ónix e corais são coisas,
E coisas não sublimam coisas.
Eu, se algum dia com lugares-comuns
Houvesse de louvar-te,
Decerto que buscava na poesia,
Na paisagem, na música,
Imagens transcendentes
Dos olhos e dos lábios e dos dentes.
Mas crê, sinceramente crê,
Que todas as metáforas são pouco
Para dizer o que eu vejo.
E vejo lábios, olhos, dentes.

Reinaldo Ferreira

Foto:Emrah Icten

Diga Púrpura



Diga púrpura mais uma vez.
Que bonito!
Deixa beijar, Raquel?
Raquel, não sabe quanto amo.

Não diga adeus,
Nem vá embora.
Quero te olhar um pouco mais.

Achas graça!?...
Que desgraça!
Gosto de Você.

Teus cabelos... Olhos...
Boca...

Diga púrpura outra vez...
Mais perto...
Assim...
Pense em mim e nada mais.

Claudio Antunes Boucinha

Foto:SAG

quinta-feira, junho 21, 2007

Dança



Eu me lembro de teu corpo
Esgueirando-se sensual
Pela gula de meu olhar.
No compasso rítmico,
Sibilando,
Trazendo para mim
Tua arte feita de carne.
Degusto na memória,
Ansioso,
O arfar de teus seios
E o suor de tua face.
Que gozo escondia teu sorriso?

Paulo Mont'Alverne

Foto:Kharlamov Sergey

Ninguém



Embriaguei-me num doido desejo
E adoeci de saudade.
Caí no vago ... no indeciso
Não me encontro, não me vejo
Perscruto a imensidade

E fico a tactear na escuridão
Ninguém. Ninguém
Nem eu, tão pouco!

Encontro apenas
o tumultuar dum coração
aprisionado dentro do meu peito
aos saltos como um louco.

Judith Teixeira

Foto:Konrad Gös

Abra bem os olhos



350 000 crianças por ano assistem a cenas de violência doméstica.
80 0000 crianças abusadas fisicamente todos os anos.
100 000 crianças por ano sofrem abusos sexuais.

Isto num país como a Holanda com o seu elevado nível de desenvolvimento.
Imaginemos agora como será noutros países menos desenvolvidos.

"Abra Bem os Olhos" é o lema desta campanha holandesa que visa alertar as pessoas para a violação dos direitos das crianças.

Visto no Papagueno

Foto retirada do Google.

Por decreto



Tão mais inúteis quanto mais se sucedem
ensolaradas e mudas são as manhãs
de domingo
eu finjo que não te espero
finges tu não nos saber

e a vida segue.
a olhos vistos se adelgaça perde o viço
empalidece
sem que haja em toda a medicina uma única
maneira - poção ventosa ou vacina -
que a possa socorrer

exceto talvez abolir - por decreto - de uma
vez por todas todas elas
as mudas e claras e azuis e inúteis
manhãs de domingo.

Márcia Maia

Foto:Margarida Delgado

quarta-feira, junho 20, 2007

Esplendor



Pois que o mar me leve
deste esplendor vivo,
deste sonho breve.

Manuel Filipe, in "Tempo de Cinza", pág.66, Apenas Livros

Foto:Zacarias Pereira da Mata

Os degraus



Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo…

Mário Quintana

Foto:Manuel Holgado

Falar de amor

A Cristina por achar que neste blog se "fala" de amor, ofereceu-me este prémio:


Agora deveria escolher 10 pessoas, mas vou deixá-los em paz:)

terça-feira, junho 19, 2007

Harpa aquática



Visto na Artista Gi, um blog que recomendo a visita pela maravilha de arte que por lá se vê.

Cartografia



Deixe que meus versos
Acariciem teu pescoço
Para que cada palavra de minha boca
Busque os segredos profundos de tua pele.
Em verbos e adjetivos
Mapearei a geometria de tuas formas
Delirando entre sonhos e verdades
E desejos
E loucuras
E vivências.
Entre o toque da caneta no papel
E o de minha língua em tua língua
Vai uma distância tão curta
Que escala alguma representará.
Derrubando fronteiras
Com rios de prosa e versejar
Traçarei meandros de corpos em corpos
Estremecendo as atmosferas de nossos toques.
E quando o último verso meu
Escorregar de tuas pernas
Eu me afastarei
E contemplarei
Cada linha eterna de tua beleza,
Eternamente gravadas em mim.
E saberei não haver distância
Entre minhas palavras e tua boca.

Paulo Mont'Alverne

Foto:Anna.Edyta Przybysz

Teclado virtual

Não resisto a partilhar convosco esta maravilha:)

Divirtam-se:-)

Back again



Larguei as botas na escada. Subi descalça, vesti a camisola de
algodão. Acabei com o Dalmadorm. Não rolei mais. Esqueci do
corpo; com olhos abertos fica tudo claro; eu estava dentro; a vida
inteira, a terra toda, os punks negros na esquina, negra com punhal.
Flash vermelho em luz neon piscando por entre as persianas: "aqui
morri", e depois de um minuto todas as paixões de novo. De novo e
uma paisagem só vista do alto. Não vejo meu corpo mas penso nele
com desejo e minha consciência é o teto do mundo, como se o forro
do meu crânio fosse o céu. Mas não vejo o osso duro. Quando a luz
neon piscou pela última vez lembrei do limbo, e ali também era o
inferno que doía no teto do mundo e o céu era vermelho. Me vi num
trem atravessando a Escócia e lendo um conto de KM. O conto se
acaba e eu fechava o livro e olhava para fora e meu pescoço estava
mole, miúdos de galinha, brilho de luz no mar do Norte, um velho
inspecionava tickets, encostei a cabeça na vidraça. Estava quente e
passava rápido e eu dormi sem querer (quando quero tenho insônia),
rumando para o norte.

Ana Cristina

Foto:zet_ka aa (Zet)

segunda-feira, junho 18, 2007

Poema do silêncio



Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.

Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.

Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
-Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!

Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...

O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.

Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!

Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.

Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!

Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.

Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!

Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.

Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...

Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...

Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome.

José Régio

Foto:Oleg Gedevani

Visto na Gi

O piano sílaba por sílaba



O Piano sílaba por sílaba
Viaja através do silêncio
Transpõe um por um
Os múltiplos murais do silêncio
Entre luz e penumbra joga
E de terra em terra persegue
A nostalgia até ao seu último reduto

Sophia de Mello Breyner Andresen

Foto:Fernando Dinis

domingo, junho 17, 2007

Temos censura!

Sempre o tenho escrito e dito ,dizem que não, mas agora aconteceram dois casos que provam que tenho razão.

Agradeço que vejam este post por favor, do blog do Papagueno.

Boss AC - Que Deus?



Há perguntas que têm de ser feitas...

Quem quer que sejas, onde quer que estejas,
Diz-me se é este o mundo que desejas,
Homens rezam, acreditam, morrem por ti,
Dizem que estás em todo o lado mas não sei se já te vi,
Vejo tanta dor no mundo pergunto-me se existes,
Onde está a tua alegria neste mundo de homens tristes?
Se ensinas o bem porque é que somos maus por natureza?
Se tudo podes porque é que não vejo comida à minha mesa?
Perdoa-me as dúvidas, tenho que perguntar,
Se sou teu filho e tu amas porque é que me fazes chorar?
Ninguém tem a verdade o que sabemos são palpites
Se sangue é derramado em teu nome é porque o permites?
Se me destes olhos porque é que não vejo nada?
Se sou feito à tua imagem porque é que durmo na calçada?
Será que pedir a paz entre os homens é pedir demais?
Porque é que sou discriminado se somos todos iguais?

Porquê?!

Porquê que os Homens se comportam como irracionais?
Porquê que guerras, doenças matam cada vez mais?
Porquê que a Paz não passa de ilusão?
Como pode o Homem amar com armas na mão? Porquê?
Peço perdão pelas perguntas que tem que ser feitas
E se eu escolher o meu caminho, será que me aceitas?
Quem és tu? Onde estás? O que fazes? Não sei...
Eu acredito é na Paz e no Amor...

Por favor não deixes o mal entrar no meu coração,
Dou por mim a chamar o teu nome em horas de aflição,
Mas tens tantos nomes, és Rei de tantos tronos,
E se o Homem nasce livre porque é que é alguns são donos?
Quem inventou o ódio, quem foi que inventou a guerra?
Às vezes acho que o inferno é um lugar aqui na Terra,
Não deixes crianças sofrer pelos adultos,
Os pecados são os mesmos o que muda são os cultos,
Dizem que ensinaste o Homem a fazer o bem,
Mas no livro que escreveste cada um só leu o que lhe convém,
Passo noites em branco quase sem dormir a pensar,
Tantas perguntas, tanta coisa por explicar,
Interrogo-me, penso no destino que me deste,
E tudo que acontece é porque tu assim quiseste,
Porque é que me pões de luto e me levas quem eu amo?
Será que essa é a justiça pela qual eu tanto reclamo?
Será que só percebemos quando chegar a nossa altura?
Se calhar desse lado está a felicidade mais pura,
Mas se nada fiz, nada tenho a temer,
A morte não me assusta o que assusta é a forma de morrer...

Porquê que os Homens se comportam como irracionais?
Porquê que guerras, doenças matam cada vez mais?
Porquê que a Paz não passa de ilusão?
Como pode o Homem amar com armas na mão? Porquê?
Peço perdão pelas perguntas que tem que ser feitas
E se eu escolher o meu caminho, será que me aceitas?
Quem és tu? Onde estás? O que fazes? Não sei...
Eu acredito é na Paz e no Amor...

Quanto mais tento aprender, mais sei que nada sei,
Quanto mais chamo o teu nome menos entendo o que te chamei!
Por mais respostas que tenha a dúvida é maior,
Quero aprender com os meus defeitos, acordar um homem melhor,
Respeito o meu próximo para que ele me respeite a mim,
Penso na origem de tudo e penso como será o fim,
A morte é o fim ou é um novo amanhecer?
Se é começar outra vez então já posso morrer...

(Ao lado ainda arde, a barca da fantasia,
o meu sonho acaba tarde,
acordar é que eu não queria...)

PS:Desligar o som do blog do lado direito por favor.

Coração Polar l



Não sei de que cor são os navios
quando naufragam no meio dos teus braços
sei que há um corpo nunca encontrado algures no mar
e que esse corpo vivo é o teu corpo imaterial
a tua promessa nos mastros de todos os veleiros
a ilha perfumada das tuas pernas
o teu ventre de conchas e corais
a gruta onde me esperas
com teus lábios de espuma e de salsugem
os teus naufrágios
e a grande equação do vento e da viagem
onde o acaso floresce com seus espelhos
seus indícios de rosa e descoberta.
Não sei de que cor é essa linha
onde se cruza a lua e a mastreação
mas sei que em cada rua há uma esquina
uma abertura entre a rotina e a maravilha .
há uma hora de fogo para o azul
a hora em que te encontro e não te encontro
há um ângulo ao contrário
uma geometria mágica onde tudo pode ser possível
há um mar imaginário aberto em cada página
não me venham dizer que nunca mais
as rotas nascem do desejo
e eu quero o cruzeiro do sul das tuas mãos
quero o teu nome escrito nas marés
nesta cidade onde no sítio mais absurdo
num sentido proibido ou num semáforo
todos os poentes me dizem quem tu és.

Manuel Alegre

Foto:Anna.Edyta Przybysz

sábado, junho 16, 2007

Discurso



E aqui estou, cantando.

Um poeta é sempre irmão do vento e da água:
deixa seu ritmo por onde passa.

Venho de longe e vou para longe:
mas procurei pelo chão os sinais do meu caminho
e não vi nada, porque as ervas cresceram e as serpentes
andaram.

Também procurei no céu a indicação de uma trajetória,
mas houve sempre muitas nuvens.
E suicidaram-se os operários de Babel.

Pois aqui estou, cantando.

Se eu nem sei onde estou,
como posso esperar que algum ouvido me escute?

Ah! Se eu nem sei quem sou,
como posso esperar que venha alguém gostar de mim?

Cecília Meireles

Foto:Sascha Hüttenhain

Bruce Springsteen - The River



Sublime!

I come from down in the valley
where mister when you're young
They bring you up to do like your daddy done
Me and Mary we met in high school
when she was just seventeen
We'd ride out of that valley down to where the fields were green

We'd go down to the river
And into the river we'd dive
Oh down to the river we'd ride

Then I got Mary pregnant
and man that was all she wrote
And for my nineteenth birthday I got a union card and a wedding coat
We went down to the courthouse
and the judge put it all to rest
No wedding day smiles no walk down the aisle
No flowers no wedding dress

That night we went down to the river
And into the river we'd dive
Oh down to the river we did ride

I got a job working construction for the Johnstown Company
But lately there ain't been much work on account of the economy
Now all them things that seemed so important
Well mister they vanished right into the air
Now I just act like I don't remember
Mary acts like she don't care

But I remember us riding in my brother's car
Her body tan and wet down at the reservoir
At night on them banks I'd lie awake
And pull her close just to feel each breath she'd take
Now those memories come back to haunt me
they haunt me like a curse
Is a dream a lie if it don't come true
Or is it something worse
that sends me down to the river
though I know the river is dry
That sends me down to the river tonight
Down to the river
my baby and I
Oh down to the river we ride



Foto:Yuri B

Os amigos



Os amigos amei
despido de ternura
fatigada;
uns iam, outros vinham,
a nenhum perguntava
porque partia,
porque ficava;
era pouco o que tinha,
pouco o que dava,
mas também só queria
partilhar
a sede de alegria -
por mais amarga.

Eugénio de Andrade

Foto:Joris Van Daele

Íntimo



Sentes?

esse arrepio que disfarço
essa chuva que dentre as pernas
se me brota
umedecendo-me secretamente
o descompassado bater do meu
coração urdindo
jam sessions de desejo
dentro em mim
enquanto olhar sereno riso
nos lábios
todas as tuas histórias escuto
sem que te apresse
sem que me apresse

sentes?

Márcia Maia

Foto:Paul Bolk

sexta-feira, junho 15, 2007

A hora da partida



A hora da partida soa quando
Escurece o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.

A hora da partida soa quando
as árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.

Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Foto:Christian Coigny

Teu olhar



Sofro cada olhar em cada resto,
nessa réstia de olhar mitigado,
mínimo, mendigado, condescendente
olhar catado no chão,
recolhido entre palmas das mãos,
que esvai por dedos, inalcançável olhar.

Por que não é olhar, não me pertence.

Ontem, por instantes, meu olhar cruzou com teu olhar.
Vi quanto brilhavam teus olhos, quanto de ti olhava.
Era eu que te olhava,
ou era a mim mesmo que olhava em teu olhar?
Era eu mesmo que te amava,
ou era a mim mesmo eu que amava através de teu olhar?

Claudio Antunes Boucinha

Foto:Stanmarek

Liberta



Noutros cenários a minha alma vive!
Outros caminhos..
Por outras luzes iluminada!
- Eu vim daquele mundo onde estive
tanto tempo emparedada…

Andavam de negro
As minhas horas…
A esquecer-me da vida-
Não me encontrava!
Meus sonhos amortalhados
Em crepúsculo,
A noite não os levava!

.............................

Um entardecer triste e doloroso
Enrubesceu o céu!
E o meu olhar ansioso
Fundiu-se no teu !

.............................

E as tuas lindas mãos,
Esguias e nevróticas,
Pintam-me telas rubras
Bizarras e exóticas
De largos horizontes…

.............................

Hoje, ergue-me a ânsia enorme
De outras horas viver!
- Sensualizando a vida,
Descobrindo novas fontes
De dor e de prazer…

- Orgias de estranha cor
de que tu fosses somente
o extraordinário inventor!

Judith Teixeira

Foto:Alex Krivtsov

O rosto evidente



Sempre o rosto da amada é transparente,
por ele passa o mundo, passa gente,
vão, por si sós, desde a boca do Verão
aos cabelos do Inverno
as árvores mais claras e as mais fortes.

Sempre o rosto da amada é infinito,
uma escada que sobe como um grito
e nunca pára, suspenso entre o dia e a noite,
no violento espaço que ocupam duas mãos,
todos os frutos, os peixes que navegam com o sol,
os dragões soltos pela Primavera e mesmo o filho
que um dia partiu e volta agora,
todo o corpo mordido
pelas vorazes pulgas da miséria.

Sempre o rosto da amada é solidário
ao tempo e, rico e vário,
vai do vermelho ao rosa,
repousa no azul, salta no mar.
É varado de balas na Bolívia,
bombardeado no Vietname,
feito radiografia no Biafra.
Fiel é no entanto o rosto à vida
e tanto que palpita, ri e chora.

Sempre o rosto da amada é evidente.
Resta o rosto da amada,
o resto é no seu rosto que se sente.

António Rebordão Navarro

Foto:Nargit

Para o sexo a expirar



Para o sexo a expirar, eu me volto, expirante.
Raiz de minha vida, em ti me enredo e afundo.
Amor, amor, amor - o braseiro radiante
que me dá, pelo orgasmo, a explicação do mundo.
Pobre carne senil, vibrando insatisfeita,
a minha se rebela ante a morte anunciada.
Quero sempre invadir essa vereda estreita
onde o gozo maior me propicia a amada.
Amanhã, nunca mais. Hoje mesmo, quem sabe?
enregela-se o nervo, esvai-se-me o prazer
antes que, deliciosa, a exploração acabe.
Pois que o espasmo coroe o instante do meu termo,
e assim possa eu partir, em plenitude o ser,
de sêmen aljofrando o irreparável ermo.

Carlos Drummond de Andrade

Foto:Jan Saudek

Eu sei e você sabe



Eu sei e você sabe
Já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe
Que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham a você.

Assim como o Oceano, só é belo com o luar
Assim como a Canção, só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem, só acontece se chover
Assim como o poeta, só é bem grande se sofrer
Assim como viver sem ter amor, não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você!

Vinícius de Moraes

Foto:Dominique Lefort(DomiL)

quinta-feira, junho 14, 2007

Che Guevara



Nasceu a 14 de Junho de 1928

"Acima de tudo procurem sentir no mais profundo de vocês qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. É a mais bela qualidade de um Revolucionário."

À vista de ti



Nunca te vi, melhor que seja assim.

Teus cabelos seriam trinados ao vento?

Poderia eu dizer "treinados", eles seriam — porque aí corre
o vento da tardinha — sempre me dizes
do vento.

Guardo teus papéis eu guardo.

Perco-os, justo que me percam.

Um cartãozinho..., teu, a te encontrar, azul...,
azul seria a saia de sair?

Ou, haverias de preferir uma roupinha amarela
e os olhos vagos de nenhuma palavra?

O que poderei dizer quando te encontrar?..., se.

Nestes tempos modernos, teria lugar para um silêncio?

Falarias?
De que nos diríamos?

Melhor que teus cabelos fiquem ao vento.

Ah, vento doce, da noite,
como me perfumas o hálito desta noite cedo.

Soares Feitosa

Foto:fmk fotodesign

Uma escritora erótica aos afagos de um poeta



Na casa sem pecado se embriaga

O toque do telefone
O convite dela
O aceito dele

Satisfação e felicidade
Se embriagam

O clima se compõem
Odor, aconchego
Metafísico, afrodisíaco

Sonolenta no sofá adormece

O toque da campainha
Meia noite e trinta
O sorriso transparece
A excitação que desce e faz subir

O beijo na face
Música, pizza,
Bebida e conto

Colchão no chão
Lençol na cama
Travesseiro, almofada,
Cobertor e virou

Liberdade
O filme pornô a luz enubrece

Ela vira
Ele tira a calça
Ele vira
Ela tira a roupa

Ela parece dormir
Ele então comenta
De um beijo que deve a ela

Troca filme
Ele senta no chão

A dívida reluz
Ao seu lado
Ele deita

O beijo...
Ardente, quente,
Molhado, alucinante

Conversas diversas

Outro beijo
Ele e ela
Roupas e lençol
Ao alto

O beijo
A transfusão de desejos
Em posições...

O amanhecer
Despedida
O beijo na boca.

Letícia Luccheze

Foto:Christian Coigny

quarta-feira, junho 13, 2007

Atitude



Minha esperança perdeu seu nome...
Fechei meu sonho, para chamá-la.
A tristeza transfigurou-me
como o luar que entra numa sala.

O último passo do destino
parará sem forma funesta,
e a noite oscilará como um dourado sino
derramando flores de festa.

Meus olhos estarão sobre espelhos, pensando
nos caminhos que existem dentro das coisas transparentes.

E um campo de estrelas irá brotando
atrás das lembranças ardentes.

Cecília Meireles

Foto:Christian Coigny

As mãos pressentem



As mãos pressentem a leveza rubra do lume
repetem gestos semelhantes a corolas de flores
voos de pássaro ferido no marulho da alba
ou ficam assim azuis
queimadas pela secular idade desta luz
encalhada como um barco nos confins do olhar

ergues de novo as cansadas e sábias mãos
tocas o vazio de muitos dias sem desejo e
o amargor húmido das noites e tanta ignorância
tanto ouro sonhado sobre a pele tanta treva
quase nada.

Al Berto

Imagem daqui

PS:Porque hoje faz 10 anos que morreu e porque é um dos meus poetas preferidos.

terça-feira, junho 12, 2007

Wonderful World



Vídeo feito pelo Special K ao som de Wonderful World por Louis Armstrong.
Está tão lindo que não resisti em colocar aqui:)


PS:Desligar o som do blog do lado direito, por favor.

Primeira pessoa



Construo
Destruo
Reconstruo
Acostumo

Falo
Esqueço
Lembro
Padeço

Começo
Termino
Altero
Desanimo

Edney Souza

Foto:ClanOfXymox

Resposta à Emile



A guerra daqui não mata - mas abre fissuras
Nos nervos - é o que te posso dizer
Deste país que escolhi para definhar

A cidade é um amontoado de lixo de tapumes
De sucata e de casas que se desmoronam
A realidade estragou os olhos das crianças

No fim do corpo em que me escondo espalhou-se
A treva onde
Guardo a corola azulínea de tua ausência

E o marulho nítido de um mar que canta
E um calor sísmico nos lábios que beijaste

É - me difícil continuar a escrever-te
O que me destrói - sei que estou fodido
E tu já não és meu

Preparo-me para entreabrir os olhos e
Deixar escorrer a convulsão oleosa das lágrimas
E das coisas tristes.

Al Berto

Foto:Konrad Gös

Instante



Deixai-me limpo
O ar dos quartos
E liso
O branco das paredes
Deixai-me com as coisas
Fundadas no silêncio.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Foto:Christian Coigny

segunda-feira, junho 11, 2007

Cavaco Silva e os Lusíadas



Por favor leiam ISTO que é imperdível!

Tal é a "Coltura" do nosso Presidente.

Caricatura:Nelson Santos

PS:Recebido por email