terça-feira, junho 26, 2007

O suicida



O suicídio
não é algo pessoal
Todo suicida
nos leva
ao nosso funeral

O suicida
não é só cruel consigo.
É cruel, como cruel
só sabe ser
- o melhor amigo.
O suicida
é aquele que pensa
matar seu corpo a sós
Mas o seu eu se enforca
num cordão de muitos nós.

O suicida
não se mata em nossas costas.
Mata-se em nossa frente
usando seu próprio corpo
dentro de nossa mente.

O suicida
não é o operário
É o próprio industrial, em greve.
É o patrão
que vai aonde
o operário não se atreve.

Todo homem é mortal.
Mas alguns, mais que outros,
fazem da morte
- um ritual

O suicida, por exemplo,
é um vivo acidental.
É o general
que se equivocou de inimigo

e cravou sua espada
na raiz do próprio umbigo.
Mais que o espectador
que saiu no entreato,
o suicida
é um ator
que questionou o teatro.

O suicida
é um retratista
que às claras se revela.
Ao expor seu negativo,
queima o retrato
- e se vela.

O suicida, enfim,
é um poeta perverso
e original
que interrompeu seu poema
antes do ponto final.

Affonso Romano de Sant'Anna

Foto:Mehmet Turgut

8 comentários:

Paula Raposo disse...

Pois...antes do ponto final. Beijos.

António disse...

Mais uma zapada e a verificação de que continuas a fazer uma selecção de muita qualidade.
E agora também pões uns vídeos...estás numa de inovação, também...ah ah ah.

Beijinhos

poetaeusou . . . disse...

/
é um poeta perverso
/
ji
/

Belzebu disse...

Muito, muito bom! Não gosto muito de destacar partes de poemas, mas não resisto desta vez!

"...O suicida, enfim,
é um poeta perverso
e original
que interrompeu seu poema
antes do ponto final."

Saudações infernais!

PintoRibeiro disse...

Keep Cool, Isabel. Bjinhos.

papagueno disse...

Este não vou comentar.
beijinhos

Hindy disse...

Beijinho hindyado

Fatyly disse...

Não consigo comentar este poema porque sempre que o leio tenho várias interpretações.

Beijocas