quinta-feira, junho 28, 2007
De alma aberta
Tomai-me as ancas fartas dão para égua
e as açucenas que ainda são mamudas.
Dos olhos tomai pranto, é boa rega,
já que a chorar por vós vos dei fartura.
Dos ouvidos, silvos que os ocuparam
tomai que até farelo pus em música.
Calo a farinha. Anjos a trituraram.
De agro celeste, o grão não mói a Musa.
De árduos sentidos que chamais pecados
tomai só os mortais. Dão uma récua.
Dos imortais nem um que são velados
por vapores de alvorada paraclética.
Tomai riso também se quereis folia:
mete rabeca e balho o Sprito Santo.
Nos fúlgidos milagres da pombinha
embuça-se o divino no profano.
Tomai polme a ferver de ilhoa irada,
mesmo o coice que dá depois de morta.
Eu deito fogo para não ser queimada.
Mas serva e cerva sou por trás da porta.
Tomai gestos que são dos sete palmos
e para vermes eu não ponho a rubrica.
De publicar-me em pó estais perdoados.
Devo-me eterna vendida em hasta pública.
Traficantes de peles, à puridade
vos digo: só mentira arrecadais.
Porque tal como o lótus, a verdade
vos dou na comunhão que não tomais.
Natália Correia
Foto:Yuri Bonder
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7 comentários:
Belíssimo!
Magnifico. Bom dia Wind e um bjinho.
Perigoso, nos dias de hoje.
Bom dia, bjinho,
Um grande poema e a foto não podia ter sido melhor!
Parabéns e um resto de bom dia!
Beijocas
Natália Correia uma óptima escolha. Como se pode comentar, a não ser ler... em silêncio e aplaudir?
Um abraço carinhoso ;)
Natália Correia, nem sempre fácil de compreender. Os Poetas são assim mesmo. Intransponíveis para o comum dos mortais. Beijos.
Grande mulher, grande açoreana e grande poetisa.
Beijinhos
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