sexta-feira, junho 29, 2007

No Fundo Aberto
















Escrevo-te enquanto algo resvala, acaricia, foge
e eu procuro tocar-te com as sílabas do repouso
como se tocasse o vento ou só um pássaro ou uma folha.
Chegaste comigo ao fundo aberto sob um céu marinho,
sobre o qual se desenham as nuvens e as árvores.
Estamos na aurícola do coração do mundo.
O que perdemos ganhamo-lo na ondulação da terra.
Tudo o que queremos dizer sai dos lábios do ar
e é a felicidade da língua vegetal
ou a cabeça leve que se inclina para o oriente.
Ali tocamos um nó, uma sílaba verde, uma pedra de sangue
e um harmonioso astro se eleva como uma espádua fulgurante
enquanto um sopro fresco passa sobre as luzes e os lábios.

António Ramos Rosa

Foto:Wilson Tsoi

6 comentários:

Paula Raposo disse...

Soberbo!

Bernardo Kolbl disse...

Um bom fim de semana e um abraço.

hfm disse...

Gosto tanto de o ler!

essência disse...

recorda-me...a tua música é linda.
e tu és linda!

peciscas disse...

Aqui, há sempre bom gosto e qualidade.
Continua!

Fatyly disse...

Estamos na aurícola do coração do mundo.
O que perdemos ganhamo-lo na ondulação da terra.
(...)

não conhecia! Fantástico!

Beijocas