terça-feira, junho 30, 2009

Maresia



Sabes-me a maresia
Algas que se entrelaçam
Nos meus tornozelos
Búzios e conchas
Na areia húmida
Murmuram-me
Sons desfeitos
No ritmo da maré
Vazante cálida
Enquanto caminho
Sem saber por onde
Sem saber porquê
Gaivotas esvoaçam
São gritos que ecoam
Suplicantes doridos
Gotas em compassos
Salpicam-me
E afogo-me em ti
Um sabor salgado
Tão doce na minha boca
Como a ternura
Em que caminho.

Paula Raposo, in"II Antologia das Noites de Poesia em Vermoim", pág.86, J.F.V.

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segunda-feira, junho 29, 2009

Grita



Amor, quando chegares à minha fonte distante,
cuida para que não me morda tua voz de ilusão:
que minha dor obscura não morra nas tuas asas,
nem se me afogue a voz em tua garganta de ouro.

Quando chegares, Amor
à minha fonte distante,
sê chuva que estiola,
sê baixio que rompe.

Desfaz, Amor, o ritmo
destas águas tranquilas:
sabe ser a dor que estremece e que sofre,
sabe ser a angústia que se grita e retorce.

Não me dês o olvido.
Não me dês a ilusão.
Porque todas as folhas que na terra caíram
me deixaram de ouro aceso o coração.

Quando chegares, Amor
à minha fonte distante,
desvia-me as vertentes,
aperta-me as entranhas.

E uma destas tardes - Amor de mãos cruéis -,
ajoelhado, eu te darei graças.

Pablo Neruda

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domingo, junho 28, 2009

***



"Nunca ninguém conseguirá ir ao fundo de um riso de criança."

Victor Hugo

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sábado, junho 27, 2009

Seus olhos



Seus olhos – se eu sei pintar
O que os meus olhos cegou –
Não tinham luz de brilhar,
Era chama de queimar;
E o fogo que a ateou
Vivaz, eterno, divino,
Como facho do Destino.
Divino, eterno! – e suave
Ao mesmo tempo: mas grave
E de tão fatal poder,
Que, um só momento que a vi,
Queimar toda alma senti...
Nem ficou mais de meu ser,
Senão a cinza em que ardi.

Almeida Garrett

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sexta-feira, junho 26, 2009

Tigresa



Uma tigresa de unhas negras e íris cor de mel
Uma mulher, uma beleza que me aconteceu
Esfregando sua pele de ouro marrom do seu corpo contra o meu
Me falou que o mal é bom e o bem cruel

Enquanto os pelos dessa deusa tremem ao vento ateu
Ela me conta, sem certeza, tudo que viveu
Que gostava de política em mil novecentos e setenta e seis
E hoje dança no Frenetic Dancing Days

Ela me conta que era actriz e trabalhou no "Hair"
Com alguns homens foi feliz, com outros foi mulher
Que tem muito ódio no coração, que tem dado muito amor
E espalhado muito prazer e muita dor

Mas ela ao mesmo tempo diz que tudo vai mudar
Porque ela vai ser o que quis, inventando um lugar
Onde a gente e a natureza feliz vivam sempre em comunhão
E a tigresa possa mais do que um leão

As garras da felina me marcaram o coração
Mas as besteiras de menina que ela disse não
E eu corri para o violão, num lamento, e a manhã nasceu azul
Como é bom poder tocar um instrumento

Caetano Veloso

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quinta-feira, junho 25, 2009

***



Estou olhando os frutos repousados
e as pequenas sombras alongadas
sobra a mesa de madeira e pedra.
A brisa entra por uma porta antiga.
Uma pétala branca cai de uma flor branca.
Sou, mais do que sou, estou
na perfeição das coisas que me envolvem.
Repouso na sinuosa exactidão.

António Ramos Rosa, in"Poemas", pág.47, JL

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quarta-feira, junho 24, 2009

Suicídios ou nem por isso...



Antonino Rominero escolheu o tabaco como método suicida. Morreu 58 anos depois, atropelado por um táxi desgovernado, enquanto comprava um maço no quiosque da esquina.

Fernando Gomes, visto na Minguante.

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terça-feira, junho 23, 2009

Numa fotografia



Não sejas como a névoa, nem quimera.
Demora-te, demora-te assim:
faz do olhar
tempo sem tempo, espaço
limpo - do deserto ou do mar.

Eugénio de Andrade, in"O Outro Nome da Terra", pág.16, Limiar

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segunda-feira, junho 22, 2009

Poeminha compensatório



Amigas, venham todas
Tragam o sal, o sol, o som, a vida,
O riso, a onda.
Eu sou o Cavalheiro da Triste Figura
Mas tenho uma bela Távola Redonda

Saio sempre do cinema
Com o sentimento desagradável
De que, se não houvesse lido a
Crítica, teria sido formidável!

Millôr Fernandes

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domingo, junho 21, 2009

Provérbio



Quem não gosta de ouvir papagaio falar, arranje cordel e faça um de papel.

Tomás Lourenço, in"Provérbios Pós-Modernos", pág.89, Âncora Editora

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sábado, junho 20, 2009

Tango



Espectacular (poema)!:)

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sexta-feira, junho 19, 2009

Amo-te no intenso tráfego



Amo-te no intenso tráfego
Com toda a poluição no sangue.
Exponho-te a vontade
O lugar que só respira na tua boca
Ó verbo que amo como a pronúncia
Da mãe, do amigo, do poema
Em pensamento.
Com todas as ideias da minha cabeça ponho-me no silêncio
Dos teus lábios.
Molda-me a partir do céu da tua boca
Porque pressinto que posso ouvir-te
No firmamento.

Daniel Faria

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quinta-feira, junho 18, 2009

Guronsan



É!
De facto é pena não haver
assim, tipo, um Guronsan para maleitas emocionais.
Uma coisa prática, pronta a usar,
muito efervescente e com provas dadas,
que restaure imediatamente o Ph do amor próprio
empenado nas cóboiadas.
Mas não há.
Ou se havia, acabou.
Talvez se arranje em supositórios.

Aloísio Nogueira, in"II Antologia das Noites de Poesia em Vermoim", pág.15, JFV

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quarta-feira, junho 17, 2009

Mosca espera o terceiro pensamento



uma mosca parada
dominou o sol.
estive olhá-la
mas ela não.
em sopro
não se mexeu.
em aproximação de aranha
não se rendeu.
seus olhares aquietos
rebolam à tarde
uma mosca parada
pode incomodar uma pessoa.

Ondjaki, in"Poesia", pág.44, Leya

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terça-feira, junho 16, 2009

As paradas



O Norberto, que a princípio aceitou com entusiasmo as paradas dos bondes de Botafogo, é hoje o maior inimigo delas. Querem saber por quê? Eu lhes conto:

O pobre rapaz encontrou uma noite, na Exposição, a mulher mais bela e mais fascinante que os seus olhos ainda viram, e essa mulher - oh, felicidade!... oh, ventura!... -, essa mulher sorriu-lhe meigamente e com um doce olhar convidou-o a acompanhá-la.

O Norberto não esperou repetição do convite: acompanhou-a.

Ela desceu a Avenida dos Pavilhões, encaminhou-se para o portão, e saiu como quem ia tomar o bonde; ele seguiu-a, mas estava tanto povo a sair, que a perdeu de vista.

Desesperado, correu para os bondes, que uns seis ou sete havia prontos a partir, e subiu a todos os estribos, procurando em vão com os olhos esbugalhados a formosa desconhecida.

- Provavelmente foi de carro, pensou o Norberto, que logo se pôs a caminho de casa.

Deitou-se mas não pôde conciliar o sono: a imagem daquela mulher não lhe saía da mente. Rompia a aurora quando conseguiu adormecer para sonhar com ela, e no dia seguinte não se passou um minuto sem que pensasse naquele feliz encontro.

Daí por diante foi um martírio. O desditoso namorado começou a emagrecer, muito admirado de que lhe causassem tais efeitos um simples olhar e um simples sorriso.

Passaram-se alguns dias e cada vez mais crescia aquele amor singular, quando uma tarde - oh, que ventura!... oh, que felicidade!... -, uma tarde passeando no Catete, o Norberto vê, num bonde das Laranjeiras, a dama da Exposição. Ela não o viu.

O pobre-diabo fez sinal ao condutor para parar, mas por fatalidade o poste da parada estava muito longe e o bonde não parou. E não haver ali à mão um tílburi, uma caleça, um automóvel!...

O Norberto deitou a correr atrás do bonde, mas só conseguiu esfalfar-se. Que pernas humanas haverá tão rápidas como a eletricidade?

Esse novo encontro acendeu mais viva chama no peito do Norberto, e não tiveram conta os passeios que ele deu do Largo do Machado às Águas Férreas, na esperança de ver a sua amada e falar-lhe.

Oito dias depois, o Norberto percorria de bonde, pela centésima vez, as Laranjeiras, quando, nas alturas do Instituto Pasteur, viu passar - oh, felicidade!... oh, ventura!... -, viu passar na rua a mulher que tanto o sobressaltava.

- Pare! pare!... gritou ele ao condutor.

- Aqui não posso; vamos ao poste de parada!

O Norberto quis descer, mas a rapidez com que o bonde rodava era tamanha, que não se atreveu.

Chegando ao poste de parada, ele atirou-se à rua, e deitou a correr para o lugar onde vira a mulher, mas, onde estava ela? Tinha desaparecido!.

Aí está por que o Norberto é hoje o maior inimigo das paradas.

Artur Azevedo

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segunda-feira, junho 15, 2009

Atrás da porta



Quando olhaste bem nos olhos meus
E teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei, eu te estranhei
Me debrucei sobre o teu corpo e duvidei
E me arrastei, e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos,
No teu peito, teu pijama, nos teus pés
Ao pé da cama, sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta, reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço,
Te adorando pelo avesso
Pra provar que ainda sou tua
Até provar que ainda sou tua
Até provar que ainda sou tua

Canta:Elis Regina

Autor:Chico Buarque

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domingo, junho 14, 2009

***



Verdes vindo à face da luz
na beirada de cada folha
a queda de uma gota

Guimarães Rosa

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sábado, junho 13, 2009

Provérbio



Não bate bem da mona, quem fica toda a noite acordado para ver se ressona.

Tomás Lourenço, in"Provérbios Pós Modernos", pág.74, Âncora Editora

sexta-feira, junho 12, 2009

***



Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.

Pablo Neruda, visto aqui

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quinta-feira, junho 11, 2009

Sem outra palavra para mantimento



Sem outra palavra para mantimento
Sem outra força onde gerar a voz
Escada entre o poço que cavaste em mim e a sede
Que cavaste no meu canto, amo-te
Sou cítara para tocar as tuas mãos.
Podes dizer-me de um fôlego
Frase em silêncio
Homem que visitas
Ó seiva aspergindo as partículas do fogo
O lume em toda a casa e na paisagem
Fora da casa
Pedra do edifício aonde encontro
A porta para entrar
Candelabro que me vens cegando.
Sol
Que quando és nocturno ando
Com a noite em minhas mãos para ter luz.

Daniel Faria

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quarta-feira, junho 10, 2009

Verdes são os campos



Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

Luís de Camões

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terça-feira, junho 09, 2009

Poema só para Jaime Ovalle



Quando hoje acordei, ainda fazia escuro
(Embora a manhã já estivesse avançada).
Chovia.
Chovia uma triste chuva de resignação
Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite.
Então me levantei,
Bebi o café que eu mesmo preparei,
Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando...
-Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei.

Manuel Bandeira, in"Antologia", pág.198, Relógio D'Água Editores

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segunda-feira, junho 08, 2009

A mulher nua



Humana fonte bela,
repuxo de delícia entre as coisas,
terna, suave água redonda,
mulher nua: um dia,
deixarei de te ver,
e terás de ficar
sem estes assombrados olhos meus,
que completavam tua beleza plena,
com a insaciável plenitude do seu olhar?

(Estios; verdes frondas,
águas entre as flores,
luas alegres sobre o corpo,
calor e amor, mulher nua!)

Limite exacto da vida,
perfeito continente,
harmonia formada, único fim,
definição real da beleza,
mulher nua: um dia,
quebrar-se-á a minha linha de homem,
terei que difundir-me
na natureza abstracta;
não serei nada para ti,
árvore universal de folhas perenes,
concreta eternidade!

Juan Ramón Jiménez, Tradução de José Bento

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domingo, junho 07, 2009

Cascais



Acaba ali a terra
Nos derradeiros rochedos,
A deserta árida serra
Por entre os negros penedos
Só deixa viver mesquinho
Triste pinheiro maninho.
E os ventos despregados
Sopram rijos na rama,
E os céus turvos, anuviados,
Tudo ali era braveza
De selvagem natureza.

Aí, na quebra do monte,
Entre uns juncos mal medrados,
Seco o rio, seca a fonte,
Ervas e matos queimados,
Aí nessa bruta serra,
Aí foi um céu na terra.

Ali sós no mundo, sós,
Santo Deus! Como vivemos!
Como éramos tudo nós
E de nada mais soubemos!
Como nos folgava a vida
De tudo o mais esquecida!

Que longos beijos sem fim,
Que falar dos olhos mudo!
Como ela vivia em mim.
Como eu tinha nela tudo,
Minha alma em sua razão,
Meu sangue em seu coração!

Os anjos aqueles dias
Contaram na eternidade:
Que essas horas fugidias.
Séculos na intensidade,
Por milénios marca Deus
Quando as dá aos que são seus.

Ai! sim foi a tragos largos,
Longos, fundos, que a bebi
Do prazer a taça: – amargos
Depois... depois os senti
Os travos que ela deixou...
Mas como eu ninguém gozou.

Ninguém: que é preciso amar
Como eu amei – ser amado
Como eu fui; dar, e tomar
Do outro ser a quem se há dado,
Toda a razão, toda a vida
Que em nós se anula perdida.

Ai, ai! que pesados anos
Tardios depois vieram!
Oh, que fatais desenganos,
Ramo a ramo a desfizeram
A minha choça na serra,
Lá onde se acaba a terra!

Se o visse... não quero vê-lo
Aquele sítio encantado;
Claro estou não conhecê-lo,
Tão outro estará mudado.
Mudado como eu, como ela,
Que a vejo sem conhecê-la!

Inda ali acaba a terra,
Mas já o céu não começa;
Que aquela visão da serra
Sumiu-se na treva espessa,
E deixou nua a bruteza
Dessa agreste natureza.

Almeida Garrett

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sábado, junho 06, 2009

Poesia:)



Mais uma bela foto/poesia da artista Eli, que me foi dada há uns tempos.

"Só conhecemos as coisas que cativamos - disse a raposa. - Os homens, agora já não têm tempo para conhecer nada. Compram as coisas feitas nos vendedores. Mas como não há vendedores de amigos, os homens já não têm amigos. Se queres um amigo, cativa-me!

E o que é preciso fazer? - Perguntou o principezinho.

- É preciso ter muita paciência. Primeiro, sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim em cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada . A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas todos os dias te podes sentar mais perto..."

O Principezinho, Saint Exupéry

Foto:Eli

sexta-feira, junho 05, 2009

What is that



Uma pequena história tocante. Porque não também um poema?:)))

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quinta-feira, junho 04, 2009

Frase



"O meu melhor amigo fugiu com a minha mulher. E, quer saber? Sinto falta dele."

Youngman,Henny

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quarta-feira, junho 03, 2009

Brincadeira



Brinca comigo à procura
de uma estrela noutro céu
Brinca e lava a noite escura
com os sonhos que Deus te deu

Começa devagarinho
- por favor, não tenhas medo,
que o meu coração fez ninho
dentro do teu em segredo

Acorda os anjos que dormem
com a luz do teu sorriso
Faz com que não se conformem
e saiam do paraíso

Deixa-os entrar de repente
no teu quarto, a esta hora
em que a verdade mais quente
é o sono que te devora

Brinca comigo às escuras,
ensina-me o que não sei
Onde estás? Porque procuras
o coração que te dei?

Fernando Pinto do Amaral, in"Poesia", págs.49 e 50

Desenho:Picasso

terça-feira, junho 02, 2009

Amor de Palhaço



Vejo-me no espelho
é o rosto de um palhaço
com meu chapéu roto
meus tantos babados.

Uma lágrima teimosa
molha meu rosto cansado
de causar risos e risos
fingindo que sou feliz.

O que as pessoas não sabem
algumas nem desconfiam:
é que todo palhaço é triste
desde o princípio, ao nascer.

Por isso ama o silêncio
cumplicidade de um momento
que poucos sabem lhe dar
só quem consegue lhe amar!

Tere Penhabe

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segunda-feira, junho 01, 2009

Menino do bairro negro



Olha o sol que vai nascendo
Anda ver o mar
Os meninos vão correndo
Ver o sol chegar

Menino sem condição
Irmão de todos os nus
Tira os olhos do chão
Vem ver a luz

Menino do mal trajar
Um novo dia lá vem
Só quem souber cantar
Virá também

Negro bairro negro
Bairro negro
Onde não há pão
Não há sossego

Menino pobre o teu lar
Queira ou não queira o papão
Há-de um dia cantar
Esta canção

Olha o sol que vai nascendo
Anda ver o mar
Os meninos vão correndo
Ver o sol chegar

Se até dá gosto cantar
Se toda a terra sorri
Quem te não há-de amar
Menino a ti

Se não é fúria a razão
Se toda a gente quiser
Um dia hás-de aprender
Haja o que houver

Negro bairro negro
Bairro negro
Onde não há pão
Não há sossego

Menino pobre o teu lar
Queira ou não queira o papão
Há-de um dia cantar
Esta canção.

Letra:Zeca Afonso

Canta:Mariza