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Aqui não há nada, Cibele,
a não ser uma alameda estreita
com renques de flores à esquerda e à direita.
As flores são daquelas de que eu não gosto, Cibele.
Pretensiosas.
Zínias, dálias, crisântemos, margaridas e rosas.
As flores de que eu gosto são das que ninguém planta nem semeia,
daquelas que a gente passa e diz: "Olhe, faz-me favor.
Sabe-me dizer como se chama esta flor?"
Não gosto delas, não,
mas à falta de melhor, Cibele,
é nelas que cevo a minha solidão.
Todas as manhãs quando aqui passo para as ver
acaricio-as à flor da pele
e balbucio as palavras que ficaram por dizer.
Assim se vai passando o tempo, Cibele.
António Gedeão, in"Poesia Completa António Gedeão", pág.143, Ed. João Sá da Costa LDA
Imagem retirada do Google
4 comentários:
As flores de que eu gosto são das que ninguém planta nem semeia,
daquelas que a gente passa e diz: "Olhe, faz-me favor.
Sabe-me dizer como se chama esta flor?"
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este é um dos poemas mais belos de Gedeão:)
Adorei reler!
Beijos e um BOM DIA
Wind,
Andei por aqui a ler.
Gostei bastante do haiku e da foto que o ilustra.
Do resto também, claro, mas apetece-me destacar o haiku do Manuel Filipe.
Um beijo.
Rem razão o velho mestre.
Essas flores sem nome são as que mais aprecio.
Flores silvestres as mais formosas.
Simples e discretas.Passear no campo .Ver aluz do SOL .
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