terça-feira, dezembro 18, 2007
Ao cair da noite
No banco do jardim, como numa sala de espera,
pergunta se alguém virá para a buscar, antes
que a noite chegue. E eu, do outro lado do tempo,
abro o caderno para lhe escrever: «Um dia
saberás o que disseram todas as cartas
que não abriste; e perante o vazio a que
a tua vida se resume, responderás que
pouco importa o tempo, quando a eternidade
te cobriu com a sua noite, há muito.»
Depois, vou ao correio. «Esqueceu-se
de pôr a morada», diz-me o empregado.
«Não sei para quem escrevo», digo-lhe.
E meto na caixa o envelope em branco
para que alguém, um dia, o descubra num
fundo de posta restante. E ao ler o que
lhe escrevi, talvez se sente num banco
de jardim, pouco antes da noite, pensando
no que é a vida em que todo o futuro se
fixa nesse instante que não chegou a ser.
Nuno Júdice
Foto:Maury Perseval
Poema "sacado" à Gi:)
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2 comentários:
Um poema tristíssimo da realidade...
Um poema repleto da maior solidão: ausência de tudo e é triste quando assim acontece.
Beijocas
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