sábado, dezembro 15, 2007

Hábitos de amar



Não é exacto que o prazer só perdura.
Muita vez vivido, cresce ainda mais.
Repetir as mil versões prévias, iguais
É aquilo que a nossa atracção segura:

O frémito do teu traseiro há muito
A pedi-las! Oh, a tua carne é ardil!
E a segunda é, que traz venturas mil,
Que a tua voz presa exija o desfruto!

Esse abrir de joelhos! Esse deixar-se coitar!
E o tremer, que à minha carne sinal solta
Que saciada a ânsia, logo te volta!
Esse serpear lasso! As mãos a buscar-
-Me. Tua a sorrir!
Ai, vezes que se faça:
Não fossem já tantas, não tinha tanta graça!

Bertolt Brecht

Foto:Stanmarek

2 comentários:

Paula Raposo disse...

Adorei este poema!!'Esse deixar-se coitar.' Excelente. Beijos.

papagueno disse...

Brecht, sempre excelente.
Beijos e bom sábado.