sábado, dezembro 22, 2007

Neste silêncio...



Olhando nos meus, teus olhos gritavam:
diz, diz que me amas, diz da paixão
que sentes por mim...

Tremendo em silêncio, teus lábios diziam:
beija-me, deixa-me beber teu amor,
passear no teu corpo, fazer-te gozar...

Teus seios eretos, ansiando diziam:
somos teus, para sempre,
suga-nos e bebe nosso sumo de amor!

E à noite, teu corpo tremendo, pedia:
vem e me toma, guarda-te e morre
dentro de mim!

Teu sexo húmido, ansiando, chorava:
vem, te prometo prazeres sem fim,
vem meu amor e renasce em mim!

E eu, surdo da vida e surdo do amor,
não ouvia os teus gritos teu desejo por mim...

E quando o tédio infame, afinal tomou conta
e o descaso doído nos fez companhia,
afinal nossa hora chegou...

E sem gritos nem choros,
sem amor e sem ódios,
sem eu o saber,
levaste minha vida.

E hoje, no imenso vazio,
de um silêncio sem fim,
eu ouço teus gritos
que antes não ouvia...

Artur Ferreira

Foto:Niko Guido

2 comentários:

Paula Raposo disse...

Não conhecia o poema. Na verdade, a questão é não ouvirmos e não nos ouvirem no momento certo. Que nunca é certo para ambos os lados. Digo eu. Beijos.

Special K disse...

Lindo o poema e como sempre uma bela imagem.
Bjs