segunda-feira, janeiro 15, 2007

Sobre outros lábios



Eu crescia para o Verão.
Para a água
antiquíssima da cal
Crescia violento e nu.

Podiam ver-me crescer
rente ao vento,
podiam ver-me em flor
exasperado e puro.

À beira do silêncio,
eu crescia para o ardor
calcinado dos cardos
e da sede.

Morre-se agora
entre contínuas chuvas,
os lábios só lembrados
de um Verão sobre outros lábios.

Eugénio de Andrade

Foto:Joris Van Daele

5 comentários:

Maria Carvalho disse...

Um poema belíssimo dum Poeta que gosto muito!!

Anónimo disse...

Sempre! sempre! sempre!

Gi disse...

Não me lembro de alguma vez ter lido este poema. Lindíssimo sem dúvida, obrigada pela partilha

Anónimo disse...

Eugénio, uma das minhas grandes paixões. Líndissimo!
Beijos.

Fatyly disse...

Uma das muitas maravilhas de Eugénio de Andrade.*****