sábado, janeiro 13, 2007

Correspondência



Vejo as nuvens que avançam do Atlântico
para o continente. E, por trás delas, como um pastor
exigente, o vento que as empurra. Depois,
as nuvens passam e volta o sol, com o azul
imutável das manhãs de outono, monótono e distante
como quem o olha, ao sair de casa, sem
tempo para pensar no tempo.

As nuvens, no entanto, continuam
o seu caminho: umas, desfazem-se em água
sobre campos vazios, ou descem para as grandes
cidades para as abraçar com um tédio
enevoado. As que me interessam, porém,
são as que sobem para norte, e ficam
mais frias à medida que as pressões continentais
abrandam o seu curso. Então, param
em dias cinzentos; e, por fim, escurecem
a tua alma, quando as olhas, e te apercebes
de que se aproxima um inverno
de solidão.

A não ser que leias, nesse obscuro céu,
esta carta que te mando.

Nuno Júdice

Foto:Stanmarek

2 comentários:

Maria Carvalho disse...

Quando te visito e leio Nuno Júdice e vejo uma fotografia tão bonita, ficou estarrecida! Adorei. Muitos beijos.

Gi disse...

Pronto,já fizeste com que começass bem o meu fim de semana :-).
Jinhos