quarta-feira, janeiro 31, 2007

Acho tão natural que não se pense



Acho tão natural que não se pense
Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer cousa
Que tem que ver com haver gente que pensa...

Que pensará o meu muro da minha sombra?
Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
A perguntar-me cousas...
E então desagrado-me, e incomodo-me
Como se desse por mim com um pé dormente...

Que pensará isto de aquilo?
Nada pensa nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver, que a tenha...
Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas cousas,
Deixaria de ver as árvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos...
Entristecia e ficava às escuras.
E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu.

Alberto Caeiro

Foto:José Marafona

2 comentários:

Su disse...

gosto tanto ..mas tanto deste poema


merci


jocas maradas

Maria Carvalho disse...

Qualquer dos heterónimos de Fernando Pessoa me enerva...Não gosto. Mas adorei a fotografia. Forte.