segunda-feira, março 24, 2008

Cárcere destino



Quando a tive sob meu julgamento,
condenei-me pelo crime que havia no olhar.

Seus gestos de quase nunca
denunciaram a culpa.
a minha?...
a dela?...

- Desconhecida era a pena.

Ordenei-lhe a fuga.
Resistiu, pois sabia de mim.

Vieram as perguntas.
As fiz em outro tempo
em resposta ao seu corpo.

- Desconhecido também era o tempo.

Conjugavam-se o ontem e o agora,
o futuro ainda não existia.

Confessei os feitiços,
o arder das chamas,
o verbo aliciado pela carne desde o princípio.

A mim não coube recurso. Culpado.
Mantive-me prisioneiro do cárcere destino,
sob vigília,
para evitar a fuga.

Quando a tive sob meu julgamento,
condenei-me ao eterno amar.

Celso Brito

Foto:Keiko Guest

3 comentários:

papagueno disse...

O "eterno amar" não podeira querer mais doce penitencia que essa.
Beijos

peciscas disse...

Outro poeta que não conhecia. E com qualidade.

Paula Raposo disse...

Que mais importante existe do que o Amor?!!