quarta-feira, março 26, 2008

O longe e o perto



Logo que a noite envolve em sombras o jardim
Parece que um mistério estranho me rodeia,
Bocas de flores se entreabrem para mim,
E não sei de quem são estes passos na areia
Nem este murmurar de uma queixa sem fim.

Como a seiva da terra alimenta as raízes,
Uma seiva secreta enche meu coração.
Deve ser o tal "gosto amargo de infelizes",
Plantinha sempre verde entre as pedras do chão,
Cujo travo provei em todos os países.

Tudo que pude fiz para não ser assim,
Mas não posso esquecer o longe pelo perto;
Os que amei e perdi dormem dentro de mim;
A culpa é minha, sou eu mesmo que os desperto,
Logo que a noite envolve em sombras o jardim.

Ribeiro Couto

Foto:Mert Onengut

6 comentários:

Paula Raposo disse...

O longe e o perto...adorei este poema. Beijos.

Isabel Filipe disse...

não conhecia ...


gostei imenso.

bjs

peciscas disse...

Sempre me encantou o sortilégio misterioso da noite.

papagueno disse...

É mesmo assim, os que amei e perdi estarão sempre cá dentro.
Um beijo

Fatyly disse...

Fantástico e a parte final está soberba.

Não conhecia e adorei! A foto é lindissima!

Beijos

Nilson Barcelli disse...

Não conhecia o poeta e gostei do poema.
E da música.

Bom resto de semana, beijinhos.