quinta-feira, março 27, 2008
Adeus
Tudo está morto.Incorrigivelmente morto.
Como pode morrer algo que nunca viveu?
Desperto a meio da noite, triste e absorto,
Foi um sonho que tive. Nada aconteceu.
Foste embrulho cúbico em papel fantasia,
Enfeitado com um laço de todas as cores,
A felicidade é assim:intermitente e fugidia,
São sempre passageiros os amores e dores.
Nunca fiz mais nada para renascer e morrer.
Renasço nu. Morro com a roupa de Domingo,
O êxtase é uma torrente para além do prazer,
Como posso sobreviver se só eu os distingo?
Não suporto este silêncio dos gritos da alma,
Mantenho-me firme no silêncio das emoções,
Num afago terno, a noite aconselha-me calma:
"É sempre intrincado o regresso das perdições."
Dormes. Eu afasto-me de ti em bicos de pés,
Sonhas. Os sonhos são só teus. Apenas teus!
Caminho para a porta, desconheço quem és,
A palavra mais triste é a palavra "Adeus..."
Gonçalo Nuno Martins, in"Nada em 53 vezes",pág.61,Papiro Editora
Foto:Stanmarek
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5 comentários:
Adeus, é a palavra mais triste. À vezes dói só de pensar nela.
Um beijo
Desencantado, mas muito bem construído.
Wind,
Prefiro até breve.
Beijinhos
Eu sou incondicional fã e amiga do meu querido GNM, prefaciador do meu 'Canela e erva doce' e tudo o que ele escreve tem um sentido mágico! Uma excelente escolha, Isabel. Beijos.
A palavra "adeus" dita num desalento. Não conhecia nem o poema nem o autor e já anotei:)
Beijocas
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