quinta-feira, março 06, 2008

Começo



Magoei os pés no chão onde nasci.
Cilícios de raivosa hostilidade
Abriram golpes na fragilidade
De criatura
Que não pude deixar de ser um dia.
Com lágrimas de pasmo e de amargura
Paguei à terra o pão que lhe pedia.

Comprei a consciência de que sou
Homem de trocas com a natureza.
Fera sentada à mesa
Depois de ter escoado o coração
Na incerteza
De comer o suor que semeou,
Varejou,
E, dobrada de lírica tristeza,
Carregou.

Miguel Torga

Foto:Piotr Kowalik

2 comentários:

Paula Raposo disse...

Forte, muito forte.

Special K disse...

O Homem e a dureza da terra. Como eu o compreendo pois cresci naquelas terras de rara beleza mas de vida dura.
bjks