domingo, março 25, 2007

Lúbrica



Mandaste-me dizer,
No teu bilhete ardente,
Que hás-de por mim morrer,
Morrer muito contente.

Lançaste no papel
As mais lascivas frases;
A carta era um painel
De cenas de rapazes!

Ó cálida mulher,
Teus dedos delicados
Traçaram do prazer
Os quadros depravados!

Contudo, um teu olhar
É muito mais fogoso,
Que a febre epistolar
Do teu bilhete ansioso:

Do teu rostinho oval
Os olhos tão nefandos
Traduzem menos mal
Os vícios execrandos.

Teus olhos sensuais
Libidinosa Marta,
Teus olhos dizem mais
Que a tua própria carta.

As grandes comoções
Tu, neles, sempre espelhas;
São lúbricas paixões
As vívidas centelhas...

Teus olhos imorais,
Mulher, que me dissecas,
Teus olhos dizem mais,
Que muitas bibliotecas!

Cesário Verde

Foto:Stanmarek

6 comentários:

poetaeusou . . . disse...

***
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, indo o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos
E pão de ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
*
in) cesário verde
*
beijos
***

Defensor da Memória disse...

Amiga, bonito poema que fala da vida de cada um,mas que no entanto temos saboreaer o que há de bom na vida.
Beijinhos e o resto de um bom fim de semana.

PintoRibeiro disse...

Boa tarde Wind, bjinho.

papagueno disse...

Sempre adorei este poema do Cesário.

.....e Capricórnia sou eu!!! disse...

Wind,

vim deixar besso de excelente semana lindona!
;)

Bom post!.....como sempre!

JPD disse...

O poema é lindíssimo e a Marta merece-o.

Beijinhos para a Marta, também!