quarta-feira, dezembro 12, 2007

A vida sem palavras



Entre riso e sangue,
cabeça e espada,
entrada e saída,
flor e escarro,
sempre a vida,
a vida sem mais nada,
entre estrela e barro.

Entre homens e bichos,
entre rua e escadas,
entre grito e nojo,
a vida com seus lixos
e mãos violadas,
entre mar e tojo.

Entre uivo e poema,
entre trégua e luta,
vida no cinema,
no café, na cama,
vida absoluta.

António Rebordão Navarro

Foto:Stanmarek

A Fatyly deixou nos comentários outro poema deste autor:

O Pardal

Leva um pouco de nuvem sobre as asas,
com as papoilas ri-se dos espanta-pássaros
e engorda sem suspeitar do visgo
da armadilha, do chumbo.
Irmão de S. Francisco como os outros
baloiça-se nos trigos, nos arames
e, de manhã, penteia-se nos espelhos da chuva.



Imagem daqui

7 comentários:

peciscas disse...

Conheci, pessoalmente, o António Rebordão Navarro, há muitos anos.
Este é um dos seus poemas que exprimem desencanto.

Fatyly disse...

Não o conheço pessoalmente mas o pouco que li dele e nomeadamente "A Condição Reflexa - poemas-1952-1982" exprimem o que o peciscas diz: "desencanto", tal como este poema. É um poeta que me desencanta, embora reconheça que a vida também tem o seu lado de desencanto.

Do livro que referi, há um que guardei e até neste se vê um pouco do que referi:

O PARDAL

Leva um pouco de nuvem sobre as asas,
com as papoilas ri-se dos espanta-pássaros
e engorda sem suspeitar do visgo
da armadilha, do chumbo.
Irmão de S. Francisco como os outros
baloiça-se nos trigos, nos arames
e, de manhã, penteia-se nos espelhos da chuva.


Beijocas

Fatyly disse...

Obrigado Wind e sabes que gosto muito de ver os pardalitos, nomeadamente o que o da foto está a fazer:)

Devemos aprender com os pássaros...

Beijos

papagueno disse...

Não conhecia e gostei. Ambas as fotos estão muito bem escolhidas.
Beijocas

gôs disse...

..., e de manhã no parapeito da janela da minha cozinha, come arroz de manteiga, cozinhado explicitamente para ele, porque sendo pequeno é um guerreiro e precisa de proteínas para sobreviver ao inverno. Se pudesse ser um pássaro seria pardal :)

Paula Raposo disse...

Não conheço o Poeta. Ambos os poemas são lindos. A 1ª foto está fantástica. Muitos beijos.

António disse...

Intenso!

Beijos