sexta-feira, outubro 27, 2006
Perfume da Rosa
Quem bebe, rosa, o perfume
Que de teu seio respira?
Um anjo, um silfo? Ou que nume
De seu trono te ajoelha,
E esse néctar encantado
Bebe oculto, humilde abelha?
— Ninguém? — Mentiste: essa frente
Em languidez inclinada,
Quem te pôs assim pendente?
Dize, rosa namorada.
E a cor de púrpura viva
Como assim te desmaiou?
E essa palidez lasciva
Nas folhas quem te pintou?
Os espinhos que tão duros
Tinhas na rama lustrosa,
Com que magos esconjuros
Tos desarmaram, ó rosa?
E porquê, na hástia sentida
Tremes tanto ao pôr do Sol?
Porque escutas tão rendida
O canto do rouxinol?
Que eu não ouvi um suspiro
Sussurrar-te na folhagem?
Nas águas desse retiro
Não espreitei a tua imagem?
Não a vi aflita, ansiada...
— Era de prazer ou dor? –
Mentiste, rosa, és amada,
E tu também tu amas, flor.
Mas ai!, se não for um nume
O que em teu seio delira,
Há-de matá-lo o perfume
Que nesse aroma respira.
Almeida Garrett
Foto:Stanmarek
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8 comentários:
"Não te amo, quero-te" é o meu poema preferido do Almeida, mas este não deixa de ser muito bonito também.
Beijinho e bom fim de semana.
A qualidade é intemporal!
Saudades tenho eu de não poder vir quando me apeteçe. :)
Bjs
Bom fim-de-semana
Poema e imagem altamente sedutores.
Beijos.
DIGNO DE UMBERTO ECO...
Visão de Afrodite.
Perfume dos Deuses.
Eden Paraisidico.
Num Garrett, Libertino.
poetaeusou(ADONISiante)
Bem desencantado, este poema do Garret.
Bom fim de semana, Wind.
Beijos.
...Wind, li com muita atenção e gostei...é um bonito poema...
Besitos e bfs.
Este é um Garrett que, nos "tempos da outra senhora" andava escondido dos olhos da generalidade do pessoal.
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