domingo, outubro 15, 2006

Paisagem



Desejei-te pinheiro à beira-mar
para fixar o teu perfil exacto.

Desejei-te encerrada num retrato
para poder-te contemplar.

Desejei que tu fosses sombra e folhas
no limite sereno desta praia.

E desejei: "Que nada me distraia
dos horizontes que tu olhas!"

Mas frágil e humano grão de areia
não me detive à tua sombra esguia.

(Insatisfeito, um corpo rodopia
na solidão que te rodeia.)

David Mourão-Ferreira

Foto:Stanmarek

9 comentários:

Delfim Peixoto disse...

Uma cheiro a maresia... um toque de viver... uma emoção!
bjs ternos e doces

peciscas disse...

O David, para além daquela postura, às vezes um tanto snob, tinha uma rara sensibilidade e uma grande elegância na escrita.

JPD disse...

É bom saber-te de volta.
Bjs

maria disse...

Pois...O difícil é permanecer...
Muito bonito, Wind! E verdadeiro...
Beijinho

Anónimo disse...

David Mourão-Ferreira é de facto único. Lindo poema.

Um resto de bom Domingo e uma boa semana de trabalho.

andorinha disse...

O grande David, um gosto que temos em comum.
Fica bem:)
Beijos.

Paulo disse...

David Mourão Ferreira, tinha um escrita muito "rica", "espelho" onde nos revemos, sempre com o espanto de nos surpreendermos maginificamente favorecidos.
Foi um escritor daqueles em quem a morte não teve poder..porque as suas palavras, agora escritas, são intemporais.
Beijos

Paulo

mfc disse...

Um poema sedutor de desejo que paira por todo ele.

Su disse...

não há duvida, gosto deste homem:)
jocas maradas