sábado, fevereiro 23, 2008

(Sátira aos HOMENS quando estão com gripe)



Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas,. creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisasna e pão de ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sózinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.

António Lobo Antunes visto no Palavras D'Ouro

5 comentários:

andorinha disse...

Não podia estar melhor...adorei!:)
Beijos.

papagueno disse...

Bolas, não somos assim tão pieguinhas! Ou somos?
Bjks

António disse...

Já conhecia este magnífico poema do Lobo Antunes.

Beijinhos

Fatyly disse...

Já conhecia e não podia ser mais verdadeiro:):) cof, cof...os homens são pieguinhas sim senhora:) tadinhos**

Paula Raposo disse...

Já conhecia e adoro este resumo magnífico do que é um homem doente!!! Eh eh eh António Lobo Antunes no seu melhor!