quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Tuas mãos



Quando tuas mãos saem,
amada, para as minhas,
o que me trazem voando?
Por que se detiveram
em minha boca, súbitas,
e por que as reconheço
como se outrora então
as tivesse tocado,
como se antes de ser
houvessem percorrido
minha fronte e a cintura?

Sua maciez chegava
voando por sobre o tempo,
sobre o mar, sobre o fumo,
e sobre a primavera,
e quando colocaste
tuas mãos em meu peito,
reconheci essas asas
de paloma dourada,
reconheci essa argila
e a cor suave do trigo.

A minha vida toda
eu andei procurando-as.
Subi muitas escadas,
cruzei os recifes,
os trens me transportaram,
as águas me trouxeram,
e na pele das uvas
achei que te tocava.
De repente a madeira
me trouxe o teu contacto,
a amêndoa me anunciava
suavidades secretas,
até que as tuas mãos
envolveram meu peito
e ali como duas asas
repousaram da viagem.

Pablo Neruda

Foto:Haleh Bryan

5 comentários:

gôs disse...

Poderia socorrer-me do título de um filme, para descrever a sensação: "De tanto bater o meu coração parou", mas é mais adequado, tanta emoção que a sensação é de uma tontura. Amei! Uma maneira muito interessannte de conhecer Pablo Neruda.

Fatyly disse...

Já li muito de Pablito embora não seja o meu preferido, mas tu mulheriiiiiii descobres coisas que eu nunca as vi mais gordas.

É por isso que adoro vir até aqui.

Gostei imenso da suavidade versus sensualidade deste poema.

Obrgadinho:)

Beijocas miúda

Ronny Ventura disse...

Estou viciado em seu blog. muito bom.
Vou coloca-lo nos meus favoritos.

Abração!

http://20-e-poucos-anos.blogspot.com/

Paula Raposo disse...

Até choro por não encontrar palavras...

papagueno disse...

Mãos é pés, tão bem que Neruda os cantou.
Bjks