sábado, fevereiro 16, 2008

Rangia entre nós dois a música da areia



Rangia entre nós dois a música da areia
como se fosse Agosto a dedilhar um sistro
Agora está fechada a casa onde te amei
onde à noite uma vez devagar te despiste

Floresça o clavicórdio em pleno mês de Outubro
Na harpa de Setembro entrelaçou-se a vinha
A que vem de repente entre os dois este muro
feito de solidão de sal de marés vivas

Podia conjurar-te a que não me esquecesses
mas é longe do Mar que os navios são tristes
De que serve o convés com a sombra das redes

Quis a tua nudez Não quis que te despisses

David Mourão-Ferreira

Foto:Yuri Bonder

3 comentários:

Gi disse...

Nunca tinha ouido esta interpretação do Avé-Maria. Interessante. O poema do DMF belo, como sempre.

Parece que é hoje que vou pôr as visitas em dia :) Tens um desafio no meu canto, vê lá se não foges desta vez.

Beijinhos

Fatyly disse...

A nudez da alma acima de tudo.

Lindoooooooo!

Beijocas

Paula Raposo disse...

Deixa-me sem palavras a sensualidade da poesia de DMF. Que repito sempre: adoro!!