quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Orfeu Rebelde



Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade no meu sofrimento.

Outros, felizes, sejam rouxinóis...
Eu ergo a voz assim, num desafio:
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura,
Saibam que ha gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura.

Bicho instintivo que adivinha a morte
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa
Os versos em legitima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.

Miguel Torga

Foto:Piotr Kowalik

6 comentários:

Su disse...

hoje andei por aqui

gostei...adorei...amei....

jocas maradas..sempre

peciscas disse...

Mais um belo naco daquela força telúrica que emana da arte poétiga do "Poeta da Montanha", como o Torga gostava de se denominar.

Nilson Barcelli disse...

QUEM ME DERA TER ESCRITO ESTE POEMA.

TODO O POEMA É SOBERBO, MAS TERMINA DE UMA FORMA GENIAL.

A FOTO... PERFEITA.

BEIJINHOS.

alien aboard disse...

"Violências famintas de ternura"
xim somos orfãos d ternura, mts vezes violentamente orfãos dela...

Bjinhuxxx

Paula Raposo disse...

Francamente forte, excepcional, possesso!!! Adorei. Gostava de poder saber escrever assim...mas uns s�o poetas, outros n�o.

Fatyly disse...

Saibam que ha gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura.
..........
palavras para quê?
Gosto muito da sua obra:)

Beijos