segunda-feira, outubro 15, 2007

Haja névoa



Haja névoa!
Dancem os véus na minha alma
(E externos nas luzes próximas,
Que se recusam como estrelas na distância).
Haja névoa!
Paire nela a memória dos maníacos
Sonhando na penumbra dos portais
Assassínios brutais.
Haja, haja névoa!
Aqui e além no mar.
No mar, nos mares, para que todas as viagens,
Para que todos os barcos em todas as paragens,
Na iminência dos naufrágios improváveis
- Improváveis, possíveis -,
Se gastem nos avisos aflitos
Das luzes, dos rádios, dos radares,
Dos gritos
Dos apitos.
Haja, haja névoa...
Desgastem-se os contornos
Das coisas excessivamente conhecidas.
Não haja céu sequer.
Névoa, só névoa!
E eu, nas ruas distorcidas,
Livre e tão leve
Como se fosse eu próprio a névoa
Da noite longa duma existência breve.

Reinaldo Ferreira

Foto:Zacarias Pereira da Mata

5 comentários:

pexeseco disse...

Ora entonces Buona Sera!
The pexe is back.

poetaeusou . . . disse...

*
Névoa, só névoa!
*
ji
*

Gi disse...

Uma imagem lindíssima para um poema magnífico. Que pena reinaldo Ferreira ser tão pouco divulgado. Ele, jorge de Sena entre outros ... parece que fazem parte de alguma geração de poetas malditos ...



beijos

Special K disse...

Lindo poema. Agora pela névoa eu vou...
Assim me despeço, beijinhos e até amanhã :)

Su disse...

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jocas maradas