sexta-feira, outubro 12, 2007

Não se mate



Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.

Carlos Drummond de Andrade

4 comentários:

poetaeusou . . . disse...

*
ninguém sabe nem saberá.
*
jino
*

Paula Raposo disse...

Mais um belíssimo poema!

Special K disse...

Lindo e que bela foto. beijocas

Fatyly disse...

"ninguém sabe nem saberá"...é isso mesmo Carlos! Não conhecia e a foto está bem escolhida.

Beijos (O Santana não pára quieto que só me faz ir abaixo e não me deixa comentar...arre p'ro homiiii:))