quarta-feira, outubro 17, 2007

No silêncio da terra



No silêncio da terra.Onde ser é estar.
A sombra se inclina.
Habito dentro da grande pedra de água e sol.
Respiro sem o saber,respiro a terra.
Um intervalo de suavidade ardente e longa.
Sem adormecer no sono verde.
Afundo-me,sereno,
flor ou folha sobre folha abrindo-se,
respirando-me,flectindo-me
no intervalo aberto.Não sei se principio.
Um rosto se desfaz,um sabor ao fundo
da água ou da terra,
o fogo único consumindo em ar.

Eis o lugar em que o centro se abre
ou a lisa permanência clara,
abandono igual ao puro ombro
em que nada se diz
e no silêncio se une a boca ao espaço.

Pedra harmoniosa
do abrigo simples,
lúcido,unido,silencioso umbigo
do ar.


o teu corpo
renasce
à flor da terra.
Tudo principia.

António Ramos Rosa

Foto:Piotr Kowalik

2 comentários:

SÓNIA P. R. disse...

Ramos Rosa é tão bonito.
Um beijinho Isabel.

Paula Raposo disse...

Simplesmente magnífico! Um Poeta que eu adoro.