quinta-feira, outubro 11, 2007
A Um Ausente
Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.
Carlos Drummond de Andrade
Foto:Thorsten Jankowski
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5 comentários:
As horas são nossas!
Como é forte a dor da ausência.
Beijinhos
Triste mas extraordinariamente bem escrito como só ele sabe fazer
Beijocas
Ps: Tens uma prendinha lá no poiso
beijocas
Tu já viste a beleza que há neste poema? Isto é Amizade elevada à ultima potencia!
Drummond fazia-o como ninguém!
Há uma tristeza, mas há uma saudade tão boa que a envolve, e uma amizade, uma ligação que parece que se cortou... mas que se não corta, jamais!
Quanto mais se lê mais se gosta.
Beijo, Amiga!
Cris
ohhhhhhh pssssttt da foto, muda lá o sobrolho, porque:)
"Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança."
Adoro este poema********
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