domingo, outubro 21, 2007

A cerimônia da insistência



Não consigo perdoar nem a ti nem a vida
Por negarem-me a oportunidade
De descobrir em teu corpo
Todo o mistério do universo...

Por que não pude beijar teus seios
Fontes de amor e vida?
Por que não pude beijar tua alma
Pela janela da tua feminilidade?
Por que não pude sentir por dentro
O mais recôndito do teu corpo
Mesmo que fosse por entre fios de látex?

Negar a realização do amor que nos bate à porta
É crime de lesa-natureza...
E tu serás cobrada por essa recusa
Quando perceberes que as efêmeras paixões
Que hoje te animam o ser
São apenas pálidos reflexos
Do que podias Ter e recusaste.

Por causa de tua negativa
As estrelas se quedaram silentes;
A lua ficou triste, encabulada;
O sol amanheceu constrangido.

Toda a natureza sentiu-se negada
Pela simples volição de uma mortal!
Que poder é esse que o Homem tem
De negar o Ser, de recusar-se a criar?

Que poder é esse que te foi dado
De negares a realização do amor?
Já pensaste que tu poderás querer
(e não Ter)
justamente o amor que te foi oferecido
e que tu simplesmente recusaste?

A tua recusa constrangeu todo o Olimpo
Aliás, dos deuses gregos aos romanos
De Eros a Afrodite...
Deixaste desconcertado o Cupido
Profanaste o altar de Vênus.

Mas podes crer que Zeus
Que jamais permitiu tanta soberba
De uma simples mortal (embora linda)
Vai cunhar em etéreas plagas
A sentença que encimará tua imagem de mulher
E a de todas iguais a ti:
"Aqui jaz, neste corpo de mulher
o amor estéril que não se pode realizar..."

E esta será tua sina: Ensinar a todas as mulheres
Que ao amor não se pode nada negar.

Nelson Castelo Branco Eulálio

Foto:Stanmarek

5 comentários:

Paula Raposo disse...

Gostei muito deste poema! Aí está uma verdade : não se pode recusar o amor...pois não!

PintoRibeiro disse...

Mais um que não conhecia.
Boa semana, bjinho,

Gi disse...

Mais um também que nunca tinha lido nada. Obrigada.

Beijinhos

Fatyly disse...

Achei-o um pouco radical (não é bem este termo que queria dizer), com sentença e sina
"Que ao amor não se pode nada negar" pode e deve-se quando não se ama!
Sinceramente, li e reli mas não gostei:)

Beijocas

papagueno disse...

Também não conhecia este mas adorei o poema :)
Beijinhos