segunda-feira, dezembro 11, 2006

Quando o luar caiu



Quando o luar caiu e
tingiu de escuro os verdes da ilha
cheguei, mas tu já não eras.

Cheguei quando as sombras revelavam
os murmúrios do teu corpo
e não eras.
Cheguei para despojar de limites o teu nome.
Não eras.

As nuvens estão densas de ti
sustentam a tua ausência
recusam o ocaso do teu corpo
mas não és.

Pedra a pedra encho a noite
do teu rosto sem medida
para te construir convoco os dias
pedra a pedra
no teu tempo consumido.

As pedras crescem como ondas
no silêncio do teu corpo.
Jorram e rolam
como flores violentas.
E sangram como pássaros exaustos
no silêncio do teu corpo
onde a noite e o vento se entrelaçam
no vazio que te espera.

Súbito e transparente chegaste
quando falsos deuses subornavam o tempo,
chegaste sem aviso
para despedir o defeso e o frio,
chegaste quando a estrada se abria
como um rio,
chegaste para resgatar sem demora o principio.

Grave o silêncio agarra-se ao teu corpo,
hostil o silêncio agarra-se ao teu corpo
mas já tomaste horas e caminhos
já venceste matos e abismos
já a espessura do obô resplandece em tua testa.

E não me bastam pombas dementes no teu rosto
não bastam consciências soluçante em teu rasto
não basta o delírio das lágrimas libertas.

Cantarei em pranto teu regresso sem idade
teu retorno do exílio na saudade
cantarei sobre esta terra teu destino de rebelde.

Para te saudar no mar e no palma
na manhã dos cantos sem represas
saudarei a praia lisa e o pomar.
Direi teu nome e tu serás.

Conceição Lima (São Tomé e Príncipe)

Foto:Howard Schatz

5 comentários:

Maria Carvalho disse...

Gostei imenso deste poema! Beijinhos.

Gi disse...

Lindo e a imagem a condizer

MariaTuché disse...

Muito bonito:)

Beijo querida e boa semana

Anónimo disse...

Belo!

Fatyly disse...

Que maravilha! Desconhecia!

Beijos