quarta-feira, dezembro 13, 2006
Poetas escolhidos III-Inconformados
Sombra
Porque
Tantas vezes
O destemperado sol
Nos tomba sobre o dorso,
É penoso
O arrastar da própria sombra
Manuel Filipe, in "Poemas de Manuel Filipe", pág.113, Edição Manuel Filipe
O revólver
Quando nos disparamos do que somos
Quando nos encantamos e seguimos
O contido estampido do silêncio
Que nos rebenta dentro dos ouvidos
A corola pistola o suspiro do tiro
Já não nos basta a bala da palavra
O gatilho dos dedos
O alvo do sentido.
Trincamos uma pétala de cor
E matamos no cheiro duma flor
Cinco sentidos únicos.
José Carlos Ary dos Santos, in "Obra Poética", pág.165, Edições Avante
Os erros
A confusão a fraude os erros cometidos
A transparência perdida – o grito
Que não conseguiu atravessar o opaco
O limiar e o linear perdidos.
Deverá tudo passar a ser passado
Como projecto falhado e abandonado
Como papel que se atira ao cesto
Como abismo fracasso não esperança
Ou poderemos enfrentar e superar
Recomeçar a partir da página em branco
Como escrita de poema obstinado?
Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome Das Coisas", pág.46, Edições Caminho
Em colisão
Não quero saber de dúvidas metafísicas,
Teológicas, cósmicas ou transcendentais.
Não quero saber se quem nasceu primeiro foi o ovo ou a galinha
Ou se o Bing Bang aconteceu porque Deus estava com gases
E dando um traque monumental abanou o universo
Dando origem à criação.
Quero resolver-me dentro,
Calar esta revolta, pacificar-me,
Encontrar um equilíbrio.
Ser cordata e consumada
E deixar de ser meteoro
Em rota de colisão
Encandescente, in "Palavras Mutantes", pág.10, Edições Polvo
Foto:Yuri B
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5 comentários:
Muito bom.
amei tuas escolhas
amei a foto
jocas maradas...sempre
Todos.... lindos!
... como as tuas escolhas!
Belíssimas escolhas, as tuas! :)
Beijos
parabéns pelo post e escolhidos a preceito.
Beijos
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