terça-feira, janeiro 01, 2008

Deixa a mão...



Deixa a mão
caminhar
perder o alento
até onde se não respira.

Deixa a mão
errar
sobre a cintura
apenas conivente
com nácar da língua.

Só um grito desde o chão
pode fulminá-la.

A morte
não é um segredo
não é em nós um jardim de areia.

De noite
no silêncio baço dos espelhos
um homem
pode trazer a morte pela mão.

Vou ensinar-te como se reconhece
repara
é ainda um rapaz
não acaba de crescer
nos ombros
a luz
desatada
a fulva
lucidez dos flancos.

A boca sobre a boca nevava.

Eugénio de Andrade

Foto:Touhami Ennadre

2 comentários:

Márcia Maia disse...

Acho que só ele sabia dizer lindamente assim.
Um 2008 só alegrias, viu?
E um beijo grande daqui.

Paula Raposo disse...

Belo Eugénio!!