quinta-feira, janeiro 31, 2008

Um poema às três e meia



Não o quero num poema às três e meia
saciado ressonando entre os lençóis.
não o quero sob os olhos
sobre a pele.
não o quero quando agora a sós
me quero.

é que o tempo embora seja o mesmo tempo
se renova e reedita (não se esvai).
e esse tempo de marés que
ora vazam
me segreda que em seu bojo
não o inclui.

deixe pois que se guardem as lembranças
dos olhares (desde as pontas dos dedos)
às palavras soletradas
pele-a-pele
que inda dizem em cada língua
eu e você.

não as quero num poema às três e meia.
nem a elas nem a mim nem a mais nada
que sussurre de nós dois sobre
lençóis.
(nem tampouco um poema
às três e meia).

quero só às três e meia assim dormir:
sossegada sob meus lençóis azuis.
se você aqui chegasse
eu diria:
não é hora meu amor
volte depois.

Márcia Maia

Foto:Stanmarek

5 comentários:

papagueno disse...

Lindo, lembro-me sempre do filme "Um peixe fora de água" onde ele ficou conhecido por aparecer a cantar versões do Bowie.
bjks

papagueno disse...

Acho que já fiz disparate e troquei os comentários mas tu percebes :)
Este é só às 3.30 e tem um pé lindíssimo!
Bjks

peciscas disse...

Mais um(a) poeta que fico a conhecer, pela tua mão.

Fatyly disse...

Ou se quer tudo ou nada...

Subscrevo as palavras do peciscas.

Beijocas

Paula Raposo disse...

É isso. Para mim, o poema não pode ter hora marcada...tira-lhe a volúpia.