quinta-feira, janeiro 24, 2008

Morreu o riso



Morreu o riso
o comprido véu de chumbo
imobiliza-o
esmaga-o.
Rua a rua
estamos obrigados ao impossível
nada nos satisfaz
nem já nos importam
as carícias inesperadas
ou as lágrimas
húmidas e lentas
ou o balbucio de uma palavra
no frémito do beijo
os suspiros essenciais.
Competímos com o vento disparado
procurando
o frio voo das pombas
o aroma da dureza do nosso sangue
já não temos medo
da águia de Prometeu
a nossa liberdade não mora em nós
mas naquilo que fazemos
e o tempo
o cancro enorme
vai destruindo a cada instante
a grande vibração
na ampla densidade do vazio
nómada.
Com tanta luz por conquistar
estamos ainda à espera de manhãs
de nevoeiro
nos nossos corpos conformados
falta-nos é o sol
está a chover
a manhã escorre água
mas os prados estão secos
morreu o riso.
O silêncio reina pestilencial
nem Palhaços nem Chaplin
nenhum frémito
só cantos gregorianos
e alcalinos relentos

e toda a paciência do verme!

João Martim

Foto:Apostolos Diamantis

2 comentários:

papagueno disse...

Nunca devemos deixar morrer o riso.
Bjks

Paula Raposo disse...

Às vezes o riso morre mesmo...