segunda-feira, janeiro 21, 2008

Visto a esta luz



Visto a esta luz és um porto de mar
como reverberos de ondas onde havia mãos
rebocadores na brancura dos braços

Constroem-te um ponte
que deverá cingir-te os rins para sempre

O que há horrível no teu corpo diurno
é a sua avareza de palavras
és tu inutilmente iluminado e quente
como um resto saído de outras eras
que te fizeram carne e se foram embora
porque verdade sem erro certo verdadeiro
nada era noite bastante para tocarmos melhor
as nossas mãos de nautas navegando o espaço
os corpos um e dois do navio de espelhos
filhos e filhas do imponderável
de cabeça para baixo a ver a terra girar

Quero-te sempre como não querer-te?
mas esta luz de sinopla nas calças!
este interposto objecto
e o seu leve peso de eternidade.

Mário Cesariny

Foto:Niko Guido

2 comentários:

Isabel Filipe disse...

não conhecia ...


uma bela escolha ...


bjs

papagueno disse...

Poema lindo, sempre bem ilustrado.
Bjks