quinta-feira, janeiro 03, 2008

É pela tarde, quando a luz esmorece



É pela tarde, quando a luz esmorece
E as ruas lembram singulares colmeias,
Que a alegria dos outros me entristece
E aguço o faro para as dores alheias.

Um que, impaciente, para o lar regresse,
As viaturas que se cruzam cheias
Dos que fazem da vida uma quermesse,
São para mim, faminto, odor de ceias.

Sentimento cruel de quem se afasta,
Por orgulho repele, e se desgasta
No esforço de fugir à multidão.

Mas castigo de quem, por imprudente,
Já não pode deter-se na vertente
Que vai da liberdade à solidão.

Reinaldo Ferreira

Foto:Gianni Candido

2 comentários:

Paula Raposo disse...

Gostei deste poema e da foto escolhida (raramente não gosto...). tenho aprendido contigo, nestes quase 2 anos e meio de blogosfera, mais do que em muitos livros que já li e em muitos quadros que já vi... Obrigada por isso.

Fatyly disse...

Um soneto fantástico, real e tocante. O olhar da foto enquadra-se perfeitamente nesta "ausência/solidão".

Parabéns pela escolha e um bom dia****