sábado, maio 19, 2007

Nuvens



Encantei-me com as nuvens, como se fossem calmas
locuções de um pensamento aberto. No vazio de tudo
eram frontes do universo deslumbrantes.
Em silêncio via-as deslizar num gozo obscuro
e luminoso, tão suave na visão que se dilata.

Que clamor, que clamores mas em silêncio
na brancura unânime! Um sopro do desejo
que repousa no seio do movimento, que modela
as formas amorosas, os cavalos, os barcos
com as cabeças e as proas na luz que é toda sonho.

Unificado olho as nuvens no seu suave dinamismo.
Sou mais que um corpo, sou um corpo que se eleva
ao espaço inteiro, à luz ilimitada.
No gozo de ver num sono transparente
navego em centro aberto, o olhar e o sonho.

António Ramos Rosa

Foto:Margarida Delgado

2 comentários:

Paula Raposo disse...

Fico sempre sem palavras quando leio António Ramos Rosa! Soberbo!

lena disse...

Ramos Rosa o poeta que me delicia

o poeta que me envolve

encanta-me...



um abraço e obrigada por o trazeres aqui

lena