segunda-feira, maio 28, 2007

O Prisioneiro



Trouxeram-me a prisioneira ao interrogatório.

Recusei-me às perguntas porque as respostas
estavam ao passado. Sequer o futuro
se lhe indagou; que também recusou
perguntar, quando os carrascos lhe disseram:

— Pergunte o que quiser.

Ela apenas balbuciou:
— Eu sei.

Mentíamo-nos,
porque jamais nos víramos.

Decretei a prisão imediata de todos os carrascos.
Mantive a prisioneira sob algemas,
que ninguém é louco de manter
tesoiro tão rico ao léu;

mas, prudência maior,
soltei-lhe os braços e mudei as algemas
aos meus próprios pulsos.

Ela —
os gestos diziam que me seriam
sob afagos.

Deixei:
apenas que os olhos, os cabelos húmidos:

— Os meus? Os dela?

Era o chamamento.

Soares Feitosa

Foto:Konrad Gös

5 comentários:

Special K disse...

Prisioneiro do prazer, sugestivo...
Gostei muito da imagem.
Beijinhos

hfm disse...

Não conhecia, gostei de ler.

Paula Raposo disse...

Também não conhecia o poema. Gostei. Beijos.

PintoRibeiro disse...

A tentar não o ser, bom dia e um bjinho Isabel.

Rosa Brava disse...

Não conhecia este poema de Soares feitosa, apesar de já ter lido muito da sua escrita.
Uma bela escolha para começar a semana

Bj e boa semana ;))