domingo, maio 20, 2007

Quarto em desordem



Na curva perigosa dos cinqüenta
derrapei neste amor. Que dor! que pétala
sensível e secreta me atormenta
e me provoca à síntese da flor

que não sabe como é feita: amor
na quinta-essência da palavra, e mudo
de natural silêncio já não cabe
em tanto gesto de colher e amar

a nuvem que de ambígua se dilui
nesse objecto mais vago do que nuvem
e mais indefeso, corpo! Corpo, corpo, corpo

verdade tão final, sede tão vária
a esse cavalo solto pela cama
a passear o peito de quem ama.

Carlos Drummmond de Andrade

Foto:Paul Bolk

6 comentários:

A. Jorge disse...

Boa escolha de Domingo!

Um abraço

Jorge

http://vagabundices.wordpress.com/

papagueno disse...

Olha eu estou quase na curva perigosa dos quarenta, como será a dos cinquenta?

Paula Raposo disse...

Excelente! Excelente!

António disse...

Olá, Isabel!
Mais uma mão cheia de bons poemas.
E os desafios!
Por favor não me mandes desafios que eu nunca respondo.

Beijinhos

Fatyly disse...

Um poema tão cheio de tudo! Gostei.

Bom domingo*******

lena disse...

Wind doce menina

Carlos Drummmond, o teu bom gosto sempre a primar

excelente este momento de poesia é sabe tão bem lê-lo!


um beijo

lena