quinta-feira, setembro 20, 2007

Coração sem imagens



Deito fora as imagens,
Sem ti para que me servem
as imagens?

Preciso habituar-me
a substituir-te
pelo vento,
que está em toda a parte
e cuja direcção
é igualmente passageira
e verídica.

Preciso habituar-me ao eco dos teus passos
numa casa deserta,
ao trémulo vigor de todos os teus gestos
invisíveis,
à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve
a não ser eu.

Serei feliz sem as imagens.
As imagens não dão
felicidade a ninguém.

Era mais difícil perder-te,
e, no entanto, perdi-te.

Era mais difícil inventar-te,
e eu te inventei.

Posso passar sem as imagens
assim como posso
passar sem ti.

E hei-de ser feliz ainda que
isso não seja ser feliz.

Raul de Carvalho

Foto:Paul Dzik

5 comentários:

Alien8 disse...

Wind,

Antes de mais, obrigado pelo trevo da sorte:)

Mas também pela divina Callas, pelo original poema de Eduardo Neves, que não conhecia, pela excelente ilustração da Cidade da Sophia, pela lua do Vinícius e pelos outros poemas e imagens que só agora li e vi - como este poema do Raul de Carvalho, e respectiva ilustração.

Ainda estou a ouvir a Callas, Casta Diva.

Um beijo gramde.

Paula Raposo disse...

Se eu soubesse escrever, este poema hoje seria o MEU! Beijos.

PintoRibeiro disse...

Sem tempo, sem tempo, bjinho.

papagueno disse...

É sempre difícil esquecer alguém.
Belo poema, beijinhos

Fatyly disse...

Enquanto ser vivo há que aprender com as percas. Gostei muito da força deste poema que desconhecia.
A foto é lndissima...o olhar que pára no horizonte.
Beijos