quarta-feira, julho 04, 2007

Ânfora fui



Ânfora fui;
O seu cadáver sou.

Emparedada neste museu,
Pasto do pó e dos olhares
Que não perscrutam a minha mágoa,
Eu sou quem fui,
Menos o fim que alguém me deu,
De conter vinho e mel e água...

Enfim, eu não sou nada,
Que há muito já se não propaga a mim
O calor de uma anca,
E o meu fresco conteúdo
Não encontra uma boca
E uma sede não estanca.

Do oleiro que me fez
- A poeira, talvez
Dispersa e reunida,
A contenha outra vida
Ou outra ânfora...
Nem memória persiste do seu nome.

Reinaldo Ferreira

Foto:Haleh Bryan

5 comentários:

peciscas disse...

Já há muito que não lia nada do Reinaldo Ferreira.
Obrigado!

Menina Marota disse...

Uma bela escolha. É sempre um prazer ler Reinaldo Ferreira. Gosto imenso da sua poesia.

Grata pela partilha.

Um abraço e continuação de boa semana :-))

lena disse...

Wind, menina doce

não fui porque estou e como estou vim deixar-te palavras que há muito deixei perdidas

continuas a primar nesta tua excelente sintonia ente a poesia e a imagens, continuas com excelente gosto na poesia que partilhas

é sempre um prazer ler aqui poesia e boa

obrigada pelas tuas partilhas, não há palavras para dizer o quanto admiro este teu cantinho

sabe bem estar aqui, alimenta e encanta a alma

abraço-te com carinho

lena

mfc disse...

Enquanto há vida é obrigatório vivê-la!

Paula Raposo disse...

Muitas vezes a memória desvanece-se na proporção directa da tristeza...