quinta-feira, abril 14, 2011

Ouço o galope surdo do cavalo do sangue



Ouço o galope surdo do cavalo do sangue
através do silêncio de uma montanha vazia
Estaria vivo ainda? O meu pulso é tão ténue
Sou alguém que perdeu o musgo fértil duma estrela
Sou ainda um felino com a boca fulminada
Quero converter-me numa serpente de sal
para adormecer no umbigo de uma mulher de quartzo
Sou alguém que quer criar a euritmia nupcial
com o sémen verde do seu sexo de argila
Inclino-me para a clareira vazia para purificar o meu
[delírio
para encontrar as armas vegetais as armas nuas
entre diademas de areia e constelações de líquenes
Sigo as imagens da água na sua monótona fluidez
num ardor de silêncios de ténues florescências
e as minhas palavras tremem como arcos de água
e o meu pulso treme como o pulso de um país
que de fragilidade em fragilidade vai singrando
rumo à linha alta do renovo
Sinto o bafo de uma boca amante
de um rosto de olhos claros de pastora
e o fogo de oiro do seu sorriso aéreo
de uma lealdade fluida e inicial
É o espaço é o horizonte é a estrela branca
é um arbusto selvagem rutilante
é uma rapariga numa torre de silêncio
é uma amendoeira num círculo vazio
Todas as imagens se reúnem numa gota de água
e é aí que eu nasço sobre o seio da terra
para descer para adorar com o sémen e o suor
a nudez de um corpo de flecha
entregue à sua vocaçã aérea mas fixo
nas suas espessas vértebras de argila.

António Ramos Rosa

Imagem retirada do Google

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostei do texto.

Bela imagem.

;)

Fatyly disse...

Sinceramente não consegui atinar com a ideia expressa neste poema, que para mim é compacto demais!

Beijocas e um bom serão