sábado, novembro 27, 2010

A filha mais velha dos evangelistas



Pergunto-me se a nossa também vai ser assim
(a biqueira rente aos lábios)
bota em cima da mesa
com pouco mais de dois anos já
pede águas minerais para
entornar
sobre a mesa. Pergunto-me se
a nossa também vai lograr atenção (os
dedos untando o casaco)
se vai rir dessas asneiras

vai parar de chorar quando o empregado trouxer
rebuçados de limão. E
têm
mesmo de ser de limão. Agora
que a içamos
entre mãos pela galeria e
a mãe se deixa atardar
tropeçando num suspiro
pergunto-me mais seriamente se a nossa
vai ser assim
se vai rir e chorar no tempo dos olhares certos
(se vai ser de fazer caras)
ou vai responder com piada e caretas impossíveis
às perguntas impossíveis.
Agora que
a mãe se atrasou e ficamos nós com a miúda
peço-te:
mais devagar. Espera pela primavera. Não
queria que os vizinhos nos vissem
sós
com a miúda que
nos dissessem sinceros que bem vamos com ela
( ou nos
chamassem de tolos por ter chegado tão cedo)
sobretudo que pensassem que
esta
que aqui levamos
entre nãos
já é nossa.

João Luís Barreto Guimarães

Imagem retirada do Google

1 comentário:

Fatyly disse...

Pois é...pelo que percebi as crianças são todas iguais em termos de traquinices...mas perdi-me completamente com o final ...e o títulos já por si com várias interpretações.

Beijocas e um bom serão