segunda-feira, novembro 13, 2006

Rosto



Rosto nu na luz directa.

Rosto suspenso, despido e permeável,
Osmose lenta.
Boca entreaberta como se bebesse,
Cabeça atenta.

Rosto desfeito,
Rosto sem recusa onde nada se defende,
Rosto que se dá na duvida do pedido,
Rosto que as vozes atravessam.

Rosto derivando lentamente,
Pressentindo que os laranjais segredam,
Rosto abandonado e transparente
Que as negras noites de amor em si recebem

Longos raios de frio correm sobre o mar
Em silêncio ergueram-se as paisagens
E eu toco a solidão como uma pedra.

Rosto perdido
Que amargos ventos de secura em si sepultam
E que as ondas do mar puríssimas lamentam.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Foto:Yuri B

5 comentários:

hfm disse...

Saudades de ler as tuas escolhas!

Maria Carvalho disse...

Um fantástico poema da Sophia e uma belíssima escolha da fotografia!! Beijinhos, Isabel.

MariaTuché disse...

Adoro ler Sophia de Mello Breyner.

Espero que estejas bem e que tenha sido bom o teu fim de semana :))

Beijossssssssss

mfc disse...

Não podias arranjar melhor fotografia para ilustrar este poema de Sophia!

Fatyly disse...

Belissima escolha, foto e poema!

Beijocas