segunda-feira, novembro 06, 2006

Destruição



Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.

Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.

Nada. Ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.

E eles quedam mordidos para sempre.
deixaram de existir, mas o existido
continua a doer eternamente.

Carlos Drummond de Andrade

Foto:Stanmarek

7 comentários:

António disse...

Olá Isabel!
E as postagens continuam em ritmo alucinante!
Pois...agora são duas...eh eh.
Bonito e forte, este soneto do Drummond de Andrade.
Obrigado pela tua visita.

Beijinhos

Su disse...

e.terna.mente....
jocas maradas

Belzebu disse...

Pois! Uma visão do amor mais severa e dura! Quantas vezes ele (amor) merece este tratamento!

Saudações infernais!

Anónimo disse...

Como o amor nos inebria e distorce os sentidos....
Quanta força tem este sentimento…

Um bj de Boa noite

Anónimo disse...

"Vizinha", lá no meu cantinho é uma imagem de África. Um dia de pescaria... Dás-te conta do peixe contido naquela rede?
Como pode um continente como África, passar fome apesar de tanta riqueza...
Só pela ganânciados dos ditos "civilizados"!

Bjs e uma boa noite

Maria Carvalho disse...

Uma beleza de poema!!! Beijos.

mfc disse...

"Quedam mordidos para sempre"... mas é uma mordedura tão boa!