
Cedros, abetos,
pinheiros novos.
O que há no tecto
do céu deserto,
além do grito?
Tudo que e' nosso.
São os teus olhos
desmesurados,
lagos enormes,
mas concentrados
nos meus sentidos.
Tudo o que é nosso
é excessivo.
E a minha boca,
de tão rasgada,
corre-te o corpo
de pólo a pólo,
desfaz-te o colo
de espádua a espádua,
são os teus olhos,
depois o grito.
Cedros, abetos,
pinheiros novos.
É o regresso.
É no silêncio
de outro extremo
desta cidade
a tua casa.
É no teu quarto
de novo o grito.
E mais nocturna
do que nunca
a envergadura
das nossas asas.
Punhal de vento,
rosa de espuma:
morre o desejo,
nasce a ternura.
Mas que silêncio
na tua casa.
David Mourão-Ferreira
Foto:Bert Z
2 comentários:
Wind,
"Tudo o que é nosso
é excessivo."
Frase intensa.
Beijo
belo grito de David Mourão-Ferreira,
um grito à rosa,
ao desejo
com a boca rasgada
um grito que se sente
no silêncio
beijinhos wind, por tão bela partilha
lena
Enviar um comentário