sexta-feira, janeiro 06, 2006
É ela! É ela! É ela! É ela!
É ela! é ela!—murmurei tremendo,
E o eco ao longe murmurou—é ela!
Eu a vi—minha fada aérea e pura—
A minha lavadeira na janela!
Dessas águas-furtadas onde eu moro
Eu a vejo estendendo no telhado
Os vestidos de chita, as saias brancas;
Eu a vejo e suspiro enamorado!
Esta noite eu ousei mais atrevido
Nas telhas que estalavam nos meus passos
Ir espiar seu venturoso sono,
Vê-la mais bela de Morfeu nos braços!
Como dormia! que profundo sono! . . .
Tinha na mão o ferro do engomado. . .
Como roncava maviosa e pura!. . .
Quase caí na rua desmaiado!
Afastei a janela, entrei medroso:
Palpitava-lhe o seio adormecido...
Fui beijá-la. . . roubei do seio dela
Um bilhete que estava ali metido. . .
Oh! de certo. . . (pensei) é doce página
Onde a alma derramou gentis amores;
São versos dela. . . que amanhã de certo
Ela me enviará cheios de flores.
Tremi de febre! Venturosa folha!
Quem pousasse contigo neste seio!
Como Otelo beijando a sua esposa,
Eu beijei-a a tremer de devaneio. .
É ela! é ela!—repeti tremendo;
Mas cantou nesse instante uma coruja...
Abri cioso a página secreta. . .
Oh! meu Deus! era um rol de roupa suja!
Mas se Werther morreu por ver Carlota
Dando pão com manteiga às criancinhas,
Se achou-a assim mais bela,—eu mais te adoro
Sonhando-te a lavar as camisinhas!
É ela! é ela! meu amor, minh'alma,
A Laura, a Beatriz que o céu revela. . .
É ela! é ela!—murmurei tremendo,
E o eco ao longe suspirou—é ela!
Álvares de Azevedo
Foto:Klaus Goffelmeyer
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2 comentários:
Lindo poema! Obrigada por todos os comentários que me tens feito, e fiquei contente de te poder conhecer no próximo dia 28, no jantar. Beijinhos
Então temos jantar!!!! Que bom, vamo-nos conhecer!
Beijos.
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