terça-feira, novembro 27, 2007

Consolo na Praia



Vamos, não chores
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humor?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te _ de vez _ nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

Carlos Drummond de Andrade

Foto:José Marafona

3 comentários:

Special K disse...

Tão lindo, não conhecia este poema.
Beijocas

Paula Raposo disse...

Amargo e doce ao mesmo tempo. O poema. A foto linda!!

Fatyly disse...

Gosto muito deste poema de Drummond e já faz um ano que o Mário nos deixou. Como o tempo passa!

Beijos

PS:tens lá algo para ti:)